terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"REVOLTAS NA LÍBIA - Kadafi usa aviões militares para atacar manifestantes"


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Centenas de pessoas se reuniram, ontem, em Trípoli para protestar contra o governo de Muammar Kadafi
FOTO: REUTERS
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Dois helicópteros civis foram vistos no Aeroporto Internacional de Malta. A aeronave de matrícula francesa teria deixado a Líbia, sem autorização, com sete passageiros
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22/2/2011
Bombardeios teriam matado 250 pessoas. Protestos contra o ditador líbio se intensificam no país
Trípoli
- O ditador líbio, Muamar Kadafi, utilizou aviões de guerra contra manifestantes que protestavam contra seu governo em Trípoli, informou, ontem, a rede de TV Al-Jazira. O canal do Catar cita moradores da capital daquele país como testemunhas.

A informação foi passada por um cidadão líbio, Soula al Balaazi - que se diz um ativista da oposição -, que afirmou à TV por telefone que aviões de guerra da força aérea do país bombardeou "alguns locais de Trípoli".

"O que estamos testemunhando hoje é inimaginável. Aviões de guerra e helicópteros estão bombardeando indiscriminadamente uma área depois da outra. Há muitos, muitos mortos", disse Adel Mohamed Saleh, morador de Trípoli.

Pelo menos 250 pessoas teriam morrido, segundo a emissora. Já a Al Arabiya fala, sem citar fontes, em 160 mortos.

Após os relatos de ataques com jatos de guerra, o filho do ditador, Seif al Islam, afirmou à TV estatal que os aviões das Forças Armadas do país bombardearam depósitos de armas situados em regiões afastadas das zonas urbanas e não abriram fogo contra os civis que protestavam nas ruas de Trípoli.

A televisão líbia assegurou que al Islam refutou "as informações segundo as quais as Forças Armadas bombardearam as cidades de Trípoli e Benghazi".

"A missão das Forças Armadas é proteger o país e não disparar sobre o povo", acrescentou o al Islam, que no domingo (20) tinha advertido que o Exército "permanecerá fiel à Líbia" e que "destruirá aos que realizarem um complô contra o país".

Um analista da consultoria Control Risks, com sede em Londres, disse que o uso de aviões militares contra seu próprio povo indica que o fim pode estar próximo para Kadafi.

"Esses realmente parecem ser atos derradeiros, desesperados. Se você está bombeando sua própria capital, é realmente difícil ver como você pode sobreviver", afirmou Julien Barnes-Dacey, analista da consultoria para o Oriente Médio.

Na noite de ontem, Muammar Kadafi fez uma breve aparição na TV estatal líbia e reiterou que ainda está no comando no país. "Estou em Trípoli e não na Venezuela", disse o ditador no pronunciamento em que aparece sentado no banco do passageiro de um carro segurando um guarda-chuva. As imagens foram ao ar por volta das 2h na Líbia (21h em Brasília).
Rumores
Na tarde de ontem, poucas horas após aviões de guerra terem sido enviados para reprimir os milhares de manifestantes, o governo líbio desmentiu as informações divulgadas pelo chanceler do Reino Unido, William Hague, de que o ditador Muammar Kadafi teria partido para a Venezuela, e reiterou que ele continua no país.

Uma fonte da cúpula do governo do presidente venezuelano Hugo Chávez já havia negado que Kadafi estivesse a caminho de Caracas, indicando que até aquele momento "nenhum contato" com o ditador da Líbia tinha sido foi feito.
Vítimas
A intensa repressão do governo contra os manifestantes já deixou ao menos 233 mortos, segundo informou, ontem, a ONG Human Rights Watch. Já a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) calcula entre 300 e 400 pessoas foram mortas desde o início da rebelião.

Jornalistas informaram, ontem, que a sede central do governo, o prédio do Ministério da Justiça e o Parlamento estavam em chamas.

Segundo a TV Al Jazeera, forças de segurança saquearam bancos e outras instituições governamentais na capital e os manifestantes invadiram e destruiram as delegacias.

"Praticamente não há forças da ordem. Não se sabe aonde foram. Esta situação favorece os rumores alarmantes", explicou o jornalista líbio, Nezar Ahmed, à Al Jazeera.

O prédio que servia de sede para um canal de televisão e uma rádio pública foi saqueado na noite do domingo (20) por manifestantes em Trípoli.

"Um local que abrigava o canal Al-Jamahiriya 2 e a rádio Al-Shababia foi saqueado", afirmou uma testemunha. A programação do canal e da emissora de rádio voltaram ao ar ontem.

A Al-Jamahariya 2, segundo canal público, e a rádio Al-Shababia foram criadas por um dos filhos de Kadafi, Seif al Islam, em 2008, antes de serem nacionalizadas.

Seif al Islam foi à TV estatal para afirmar que seu pai continua no poder - com apoio do Exército - e que irá "lutar até o último homem, a última mulher, a última bala".

Durante o pronunciamento, na noite do domingo, confrontos foram registrados nas proximidades e na praça Verde, no Centro de Trípoli, durando até a madrugada de ontem.

Segundo a FIDH, manifestantes antirregime assumiram o controle de cidades líbias e muitos militares estão desertando. "Muitas cidades foram tomadas. Os militares estão debandando", disse a presidente da FIDH, Souhayr Belhassen.
Retrato do Excêntrico ditador
Nascido na cidade de Sirte, em 1942, Muammar Kadafi foi criado em uma família dedicada ao pasto de camelos. Ele estudou para chegar à Academia Militar. Com os companheiros de armas se aproveitou das lições de liderança e alcançou o poder com um golpe de Estado em 1º de setembro de 1969, quando derrubou o rei Idris Senussi, no poder desde a independência do país, em 1951. Kadafi é conhecido por suas excentricidades, brigas com o Ocidente, caprichos sem fim e como o mais duradouro dos ditadores africanos.
FUGA DOS CONFLITOSPilotos de caças desertam para Malta

Dois caças Mirage da Força Aérea da Líbia aterrissaram, ontem, em Malta e, de acordo com autoridades militares locais, os pilotos pediram asilo político, em meio ao sangrento levante contra o regime de Muamar Kadafi.

Segundo fontes do governo maltês, ao chegarem ao país os dois militares disseram que a ordem que haviam recebido era de bombardear os manistantes em Benghazi, segunda maior cidade da Líbia e epicentro dos protestos contra Kadafi.

Uma outra fonte declarou que os dois coronéis líbios receberam autorização para aterrissar depois de comunicarem no ar que desejavam pedir asilo ao país mediterrâneo. Os militares decolaram de uma base em Trípoli e voaram a baixa altitude a fim de evitar serem detectados por radar.

A polícia maltesa também está interrogando sete passageiros que chegaram da Líbia a bordo de dois helicópteros com matrícula francesa.

Fontes do governo disseram que os helicópteros deixaram a Líbia sem autorização das autoridades locais, e que só um dos sete passageiros - que afirmam ser cidadãos franceses - tinha passaporte.

A chancelaria francesa disse que estava analisando o caso.
Renuncia
O ministro da Justiça, Mustafa Mohamed Abud Al Jeleil, renunciou, ontem, ao cargo em protesto contra o uso da força na repressão às manifestações antigoverno, informou o jornal Quryna, que ligado ao filho de Kadafi. A Al-Jazeera disse que o diplomata líbio Ahmad Jibreel confirmou a informação.

O embaixador líbio na Índia, Ali al Issawi, também resolveu abandonar o cargo. Issawi disse que decidiu deixar a embaixada em protesto contra o uso de violência por parte do governo e afirmou que mercenários estrangeiros foram mobilizados para atuar contra cidadãos líbios.

Diplomatas líbios na China e na Liga Árabe também renunciaram. O secretário da Liga, o egípcio Amr Moussa, também cobrou, ontem, o fim da violência e da repressão no país, afirmando que as demandas da população são legítimas.

"Os sentimentos de todas as nações (árabes) estão juntos nesse momento decisivo da história", declarou Moussa, de acordo com a agência de notícias egípcia Mena.

Em outra mostra das divergências no regime de Kadafi, o ex-porta-voz do governo Mohamed Bayou, que estava no cargo até um mês atrás, disse ontem que o uso da violência para frear a revolta é um erro. Em comunicado, Bayou pediu diálogo com a oposição.

Líderes islâmicos também teriam convocado os fieis a aderirem às manifestações.

Para analistas, o uso de aeronaves militares sobre a capital pode ser um ato desesperado de Kadafi.
RETIRADAItamaraty negocia resgate de brasileiros

Brasília O ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota afirmou que o embaixador líbio em Brasília foi chamado na tarde de ontem para negociar a retirada de 123 brasileiros da cidade de Benghazi, o epicentro dos protestos antigoverno na Líbia. Mulheres e crianças devem sair do país primeiro.

O objetivo da reunião, conduzida pelo secretário geral do Itamaraty, Rui Nogueira, é pedir a cooperação das autoridades líbias para que um avião fretado pela construtora Queiroz Galvão seja autorizado a decolar do aeroporto de Benghazi em direção à capital Trípoli levando os brasileiros.

Como nem todos desejam sair do país, em um primeiro momento apenas mulheres e crianças sairão da Líbia. Patriota disse também que o Itamaraty possui planos de contingência para retirar brasileiros da Líbia caso a autorização para a decolagem do avião de Benghazi seja negada. Ele não revelou qual será a estratégia.

Além disso, outros 30 brasileiros estão em conversação com portugueses para sair de Benghazi. O Brasil vai discutir com o governo de Portugal uma ação conjunta.

O chanceler condenou também a repressão a manifestantes. "O Brasil repudia atos de violência contra manifestantes desarmados e vemos com grande preocupação os desenvolvimentos na Líbia. Parece que alcançaram um padrão de violência absolutamente inaceitável", disse Patriota em entrevista coletiva em São Paulo.
Trabalhadores
A empreiteira brasileira Odebrecht, que emprega 5.000 funcionários líbios e de variados países em diferentes obras em andamento na Líbia, afirmou em comunicado que trabalha para retirar 187 brasileiros atualmente impossibilitados de deixar o país. O resgate deve ocorrer por meio de voos de carreira e aviões fretados. Não há indicação de prazo para a chegada do grupo ao Brasil.

Pelo menos 600 brasileiros encontram-se atualmente no país, que vive intensos protestos contra o governo do ditador Muammar Gaddafi, que está há 42 anos no poder. Além da empreiteira, a construtora Queiroz Galvão mantêm 130 funcionários brasileiros no país e a Petrobras também tem empregados na Líbia.

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