domingo, 20 de fevereiro de 2011

"AÇÃO DESASTROSA - Oito PMs serão levados a júri"

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A Hilux foi atingida por 22 tiros de armas de diferentes calibres. Policiais militares confundiram a caminhonete com outro carro que bandidos usaram após roubar um caixa
DENISE MUSTAFA (27.09.2007)
Leandro Vasques, advogado das vítimas, espera que a Justiça do Ceará priorize o julgamento do caso
MIGUEL PORTELA
20/2/2011
Justiça conclui a apuração do episódio em que policiais militares metralharam um veículo e balearam 3 cidadãos
Três anos e cinco meses depois de uma desastrosa operação da Polícia Militar, ao atirar contra um veículo ocupado por quatro cidadãos - sendo um brasileiro e três estrangeiros - a Justiça Comum decidiu mandar a julgamento oito policiais acusados de terem participado do delito. A decisão foi tomada pelo juiz titular do Segundo Tribunal do Júri Popular, Henrique Jorge Holanda Silveira. Outros dois PMs foram impronunciados, isto é, excluídos do processo por falta de provas.

O episódio ocorreu na noite de 26 de setembro de 2007, por volta das 21 horas, quando os policiais militares faziam um cerco na cidade na tentativa de capturar um grupo de bandidos que havia assaltado a sede da Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlurb) roubado um caixa eletrônico, fugindo em uma picape.

Tiros
A desastrosa operação da PM aconteceu quando viaturas que faziam o cerco aos ladrões no cruzamento das avenidas Murillo Borges e Governador Raul Barbosa confundiram o veículo onde estavam os quatro cidadãos, com o suposto carro em que os criminosos fugiram.

Diversos tiros foram disparados contra a Hilux preta onde estavam as vítimas, o italiano Innocenzo Brancati e sua esposa, a brasileira Denise Sales Campos Brancati; e o casal de espanhóis Marcelino Luiz Campelo e Maria Del Mar Santiago Almudever. Os dois últimos haviam acabado de chegar a Fortaleza e foram recepcionados no Aeroporto Internacional Pinto Martins pelos Brancati.

Segundo constatou a Perícia, a Hilux em que as vítimas viajavam foi atingida por 22 tiros de diferentes calibres. O italiano Innocenzo Brancati foi ferido com um tiro no braço e outro na perna. Denise Sales Brancati foi lesionada na perna esquerda por estilhaços. A espanhola Maria Del Mar Santiago Almudever somente saiu ilesa porque deitou-se no piso do veículo no momento dos disparos; Já o espanhol Marcelino Luiz Campelo foi o ferido mais grave.

Atingido por uma bala no ombro esquerdo, que alojou-se na coluna cervical, ele acabou ficando definitivamente paraplégico, conforme atestaram os médicos que o assistiram.

As investigações da Polícia e da própria Justiça apontaram dez PMs como os responsáveis pela operação. Agora, com a decisão judicial de pronúncia, oito deles deverão ser julgados pelo crime. São eles, Luiz Ary da Silva Barbosa, Marcelo Lima Alves, Francisco Emanuel Rodrigues Felipe, Rinaldo Carmo Sousa, Francisco Edinaldo de Lima, Francisco Elnias de Sousa, Francisco Eloy da Silva Neto e Antônio Eduardo Martins Maia. Foram impronunciados os PMs Antônio Liberato Dias Neto e Marcos Antônio da Silva.

Conforme a pronúncia, os oito militares deverão responder pelo crime de tentativa de homicídio qualificado, com concurso material e de agentes.

Mesmo diante da decisão, a defesa dos acusados poderá ainda entrar com recurso contra a pronúncia.

Despreparo
"Foi uma operação desastrosa que revelou o agudo despreparo de parte da Polícia cearense", afirma o advogado criminalista Leandro Vasques, que representa juridicamente as vítimas.

Segundo Leandro Vasques, mesmo diante das graves consequências do incidente, "as vítimas que sofreram sequelas não guardam ressentimento, nem sentimento de vendita ou de vingança, mas esperam que o Estado do Ceará, que já confessou seu erro pela Imprensa e pelo próprio governador, que esteve no hospital, minimize as consequências dessa tragédia com a devida reparação de danos". Conforme o advogado, paralelamente ao processo criminal, que chegou à pronúncia, tramita uma ação indenizatória na Primeira Instância da Justiça. "Espero que, mesmo havendo recursos por parte da defesa dos réus, a Justiça priorize a apreciação deste fato. Trata-se de um caso emblemático que ainda ressoa no Exterior, causando impacto com prejuízos financeiros para o turismo do Estado", concluiu.
FERNANDO RIBEIROEDITOR DE POLÍCIA DN.

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