segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"PARLAMENTO DISSOLVIDO - Constituição egípcia suspensa"

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Soldados tentaram desarmar o acampamento dos manifestantes, e enfrentaram focos de resistência
FOTO: REUTERS
14/2/2011
Cairo. O governo militar do Egito anunciou, ontem, que dissolveu o Parlamento, suspendeu a Constituição e que pretende governar por apenas seis meses, quando haverá eleições.

O Conselho Supremo Militar, que assumiu o governo depois que 18 dias de protestos puseram fim aos 30 anos de ditadura de Hosni Mubarak, prometeu fazer um referendo sobre emendas constitucionais.

A resposta inicial dos integrantes da oposição e líderes do protesto foi extremamente positiva. "É uma vitória da revolução. Acho que isso vai satisfazer os manifestantes", afirmou o político de oposição, Ayman Nour, que concorreu com Mubarak para a Presidência, em 2005, e mais tarde foi preso acusado de falsificação, o que ele diz ter sido uma armação.

O embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, afirmou que as medidas são o caminho "mais natural" para se estabelecer a democracia no país. De acordo com ele, não há como construir um governo democrático com um Parlamento eleito sob suspeita de fraude e com uma Constituição redigida sob um regime ditatorial.
Manifestações continuam

Muitos manifestantes permanecem na Praça Tahrir, no centro do Cairo. Eles exigem a libertação imediata dos prisioneiros políticos, o levantamento do estado de emergência, utilizado por Mubarak para esmagar a oposição, o fechamento dos tribunais militares, eleições justas e uma rápida passagem do poder aos civis.

Ontem, o Exército tentou restaurar a ordem. No entanto, as tropas enfrentaram focos de resistência ao agir para desmontar o acampamento armado pelos manifestantes.

Soldados e policiais militares tentaram derrubar as tendas, mas houve brigas com alguns jovens que se recusaram a deixar o local. Muitos residentes dos entornos da praça gritaram dizendo aos manifestantes que é hora de partir. A tensão reflete a fragilidade da situação, enquanto a população pede mais voz no movimento do país em direção à democracia.

Os militares prometeram obedecer o tratado de paz com Israel e, eventualmente, ceder o poder para um governo eleito, mas muitos manifestantes temem que as reformas há muito tempo pedidas sejam deixadas de lado caso eles abandonem os protestos.

A multidão na Praça Tahrir diminuiu do pico de 250 mil, no auge das manifestações, para alguns milhares ontem. A maior parte dos que permanecem no local foi empurrada para as calçadas, e as ruas foram reabertas para o tráfego pela primeira vez em mais de duas semanas.

Uma coalizão de grupos de jovens e de oposição que participaram do movimento pediu que as pessoas saíssem das ruas e convocou protestos semanais, todas as sextas-feiras, para continuar pressionando o governo. A coalizão é bastante influente entre a multidão que ocupou a Praça Tahrir, mas seus membros dizem que não são líderes e que não podem evitar a força da "revolução". Muitos na praça prometeram ficar ali até que todas as suas demandas tenham sido atendidas.
ALIADOSIsrael nega risco na relação

Jerusalém. Os acontecimentos no Egito não representam nenhum risco para as relações com Israel, afirmou o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, que descartou uma evolução similar à iraniana no país vizinho.

"Penso que não existem riscos nas relações entre Israel e Egito e que nenhum risco operacional nos aguarda ao dobrar a esquina", declarou Barak a o no programa "This week", da emissora norte-americana ABC.

O ex-premier destacou que o movimento que levou à renúncia do presidente Hosni Mubarak foi "espontâneo" e não tem "nenhuma semelhança" com a revolução iraniana de 1979.

No entanto, em 7 de fevereiro, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou na Knesset (Parlamento) que era "possível" que o Egito seguisse o exemplo do Irã.

Já o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, afirmou confiar no apoio do Egito à Autoridade Palestina no futuro, apesar das mudanças políticas no Cairo. "Por quê deveria pensar que depois desta revolta o Egito nos apoiará menos?", questionou o premiê em entrevista ao jornal norte-americano "Washington Post".

Sob a presidência de Hosni Mubarak, o Egito, país de fronteira com a Faixa de Gaza e Israel, desempenhou um papel fundamental nas conversações de paz entre palestinos e israelenses, atualmente suspensas.

Mubarak tentou, em vão, reconciliar o partido político do presidente Mahmud Abbas, o Fatah, com o rival Hamas, o movimento radical que controla a Faixa de Gaza.

Segundo o primeiro-ministro egípcio, Ahmed Shafiq, Mubarak está em seu luxuoso resort na cidade balneária de Sharm el Sheikh, no Mar Vermelho, junto com sua família.
FONTE - DN.

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