sábado, 2 de outubro de 2010

"Política, NACIONAL E ESTADUAL - Campanha eleitoral marcada por escândalos"

Mirtes Amorim aponta que o desencanto da sociedade com a política surge da corrupção dos agentes públicos.
BRUNO GOMES

Especialista vê menos discussão de propostas e mais denuncismo entre os candidatos à Presidência e ao Governo.

Os escândalos que eclodiram nos últimos dois meses foi o que mais marcou a campanha eleitoral deste ano, de acordo com a avaliação da professora Mirtes Amorim, do curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará, especialista em filosofia política. A avaliação dela é que os escândalos podem ter repercussão nas urnas e levar a eleição a um segundo turno, no plano nacional.

Para Mirtes Amorim, as denúncias de suposto tráfico de influência na Casa Civil, envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, é um caso "imperdoável". Ela reforça que este caso específico é que pode ocasionar um segundo turno, pontuando que as últimas pesquisas de intenção de voto mostram uma queda da candidata do PT, Dilma Rousseff.

A professora argumenta que esse escândalo é uma repetição do que ocorreu em 2005, no caso que ficou conhecido como mensalão: um esquema de compra de votos de parlamentares na Câmara dos Deputados. Agora, analisa, o caso reaparece com novas figuras e o mesmo tráfico de influências.

Dúvida:
Em nível estadual, os escândalos ficaram por conta de acusações ao governador e candidato a reeleição, Cid Gomes (PSB), que lidera as pesquisas. A professora citou o caso publicado pela Revista Veja que denuncia um suposto esquema de corrupção com 66 prefeituras do Interior.

Mirtes Amorim pondera que no casso dessas denuncias não há, por enquanto, a certeza se as denuncias têm ou não fundamento. Por isso, atesta que, no Ceará, ainda paira a dúvida se haverá o segundo turno.

Outro fato que marcou esta eleição, destaca a professora, foi a Lei do Ficha Limpa. Apesar da população ter se mobilizado a fim de aprovar uma legislação que dificultasse a candidatura de pessoas que possuem condutas duvidosas, Mirtes Amorim lamenta o fato do Supremo Tribunal Federal (STF) não ter se posicionado sobre a validade da Lei nesta eleição.

"Dá um desencanto. Houve uma mobilização popular e depois de a Lei ter sido aprovada (no Congresso Nacional) não ficou decidido se ela valeria para essas eleições", lamenta.

Negativo:
O desencanto, pondera, também se estende à política, como se para a população esse tema estivesse ligado a algo negativo, o que alerta não ser verdade. "Isso é lamentável. A política não é, necessariamente, uma coisa suja. Diz respeito a nossa vida pública, a condução da sociedade", argumenta.

De acordo com Mirtes Amorim, grande parte da população ainda não tem a compreensão do significado de uma eleição para a democracia, o que fortalece práticas antigas que maculam esse processo como a compra de votos e os currais eleitorais e votos de cabresto.

"Muitos imaginam o voto como uma troca de favores: voto em você, se você me der alguma coisa. Está enraizado na população mais carente que a eleição é um momento para se ganhar alguma coisa, então políticos inescrupulosos se aproveitam dessa brecha para dar migalhas em troca do voto", reflete.

No entendimento da especialista, cada vez mais as pessoas estão se distanciando da política. Uma prova disso, segundo ela, é o desinteresse da população em assistir à propaganda eleitoral gratuita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário