domingo, 31 de outubro de 2010

"Regional, ESCRITORES NO INTERIOR - Novo cenário para a literatura"

Franco Barbosa é gerente de literatura da Biblioteca de Juazeiro e coordena projeto de incentivo à leitura
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS

A instalação de novas gráficas no Cariri e o uso do ambiente virtual permitem que escritores divulguem trabalhos

Elizângela Santos
Repórter DN.

Juazeiro do Norte. O espaço da literatura no Cariri tem se ampliado, mesmo com a falta de apoio e a produção ser praticamente independente. Isso salvo alguns incentivos, na maioria das vezes, por parte da iniciativa privada. O debate para este setor também se abre, além das iniciativas de editores independentes, que vêm fortalecer mais ainda esse processo de produção editorial.

Conto, poesia, crônicas, narrativas. Versos, romance, área motivacional, educação, documentário, a revista em forma de livro. Tudo isso está inserido num amplo espaço de produção que, segundo os escritores, está bem mais fácil, e com gráficas de bom nível na região. Mesmo sendo o Cariri de antiga tradição literária, não há ainda uma academia de letras que atue de forma mais representativa neste segmento. Escritores esperam, também, o reconhecimento da universidade.

Produção

O escritor, professor e jornalista Jurandy Temóteo fez um levantamento do número de escritores na região. São mais de 100, segundo ele. Cerca de 25 livros são lançados por ano, e toda essa produção vem praticamente dos amantes da leitura e dos livros. Mas não dá prejuízo, admite o escritor e jornalista Franco Barbosa, de Juazeiro do Norte. À frente do projeto de implantação de Bibliotecas Comunitárias, as "padarias espirituais", no Município, por meio da Secretaria de Cultura, ele já lançou quatro livros, um de poesia e mais quatro na área motivacional. Explora um filão novo em relação aos estilos de publicações regionais.

O projeto que coordena será uma forma de incentivar a leitura na periferia da cidade. "É preciso incentivar e mostrar a importância do conhecimento, da leitura para as pessoas, como forma de inclusão e disseminação da cultura", ressalta. Cerca de 12 toneladas de livros vieram de Brasília, e foram selecionados por Franco Barbosa, doados pelo caririense Elmano Rodrigues, que atua na área, na capital federal.

Jurandy Temóteo considera que não há uma representatividade institucional dos literatos. É integrante do Instituto Cultural do Cariri (ICC), com sede em Crato. A revista Itaytera, editada por meio do órgão desde 1953, é uma das publicações mais antigas nesse segmento, e importante veículo de incentivo aos escritores. Há quase dez anos não tem nova edição. Já a revista "A Província", sob sua responsabilidade editorial, traz o formato de livro.

Desafios da edição:
O escritor passou a ser editor e incentivador de outros escritores da região. Ele detalha todos os passos para o caminho da publicação, que ele conhece bem. As gráficas hoje, afirma, já querem o produto pronto e acabado. Para isso, é preciso seguir o processo de criação, revisão, edição do material, e tudo deve passar por alguém experiente. Isso tudo para que seja finalizado um produto de qualidade para o leitor.

A tiragem de sua revista chega a 2.500 exemplares. O lema do trabalho é o universal pelo regional. Um veículo, conforme o editor, que vem teimosamente resistindo, contribuindo para as verdadeiras fontes da memória local.

O jornalista e escritor Lindemberg de Aquino, o escritor Oswaldo Alves e o memorialista e jornalista Huberto Cabral também são referência no Cariri quando se trata de publicações voltadas para a preservação da memória, por meio de jornais, revistas e livros, contribuindo para os registros históricos.

Oswaldo Alves de Souza, 80 anos, e João Lindemberg de Aquino, 73 anos, são autores dos livros "Roteiro Biográfico das Ruas do Crato", "Padre Ibiapina", revista "Itaytera" e cerca de dez jornais. Oswaldo, ao longo de sua vida, como editor de jornais e revistas, escreveu a história do Nordeste.

Jurandy Temóteo normalmente tem levado o seu material para ser impresso em Fortaleza. No entanto, Emerson afirma que esse mercado gráfico tem tido uma significativa melhora nos últimos anos, no Cariri. Há proprietários de gráficas que tem investido em maquinário da Alemanha, produzindo material que não deixa a desejar a nenhuma empresa do sul do País, na própria região.

MOVIMENTO INTELECTUAL:
Cariri precisa de Academia de Letras

Movimento de escritores e intelectuais busca criar um instituto, com selo editorial para incentivar novos livros

Juazeiro do Norte. A existência de uma Academia Caririense de Letras já foi realidade na década de 80. O escritor, editor e advogado Emerson Monteiro chegou a ser integrante da entidade que não seguiu caminho, mesmo com mais de 20 membros. A Academia foi fundada por Emídio Lemos.

Hoje, o escritor faz parte da Academia Lavrense de Letras. Mas destaca a necessidade de haver uma maior representatividade deste setor na região. Franco Barbosa ressalta a importância da união dos escritores do Cariri para que uma entidade representativa nesse sentido seja recriada.

Por iniciativa de escritores da região, entre eles o professor e pesquisador Daniel Walker, foi realizada há alguns meses uma reunião com escritores. A ideia é criar uma entidade, espécie de instituto, que tenha um selo editorial, além de um conselho que congregue número representativo de escritores, com a finalidade de publicar livros com um crivo de qualidade.

Incentivo:
Para Franco Barbosa, essa seria uma das alternativas que daria a condição também de incentivar novos escritores locais, que atualmente encontram dificuldades de publicar o seu trabalho. "São talentos muitas vezes desperdiçados por falta de um direcionamento", diz.

Jurandy Temóteo destaca a importância de se criar espécies de representações de academias de Pernambuco ou mesmo do Ceará na região. A partir dessas entidades, deverá nascer então uma academia de letras regional. Daí viria a identidade de um grupo para a uma realidade institucional local.

No Cariri há entidades que congregam intelectuais, como a ICC em Crato, e o Instituto Cultural do Vale Caririense (ICVC), em Juazeiro do Norte. A Academia dos Cordelistas do Crato reúne os poetas populares. O escritor Emerson Monteiro destaca a iniciativa para o fortalecimento do setor, mas vem fazendo o seu trabalho, como editor independente, e está atuando já na publicação de vários livros de escritores regionais. O selo da Biblioteca Nacional vem sendo formalizado para inserção continuada nos livros que edita e nas suas produções literárias.

Normalmente as edições regionais atingem uma tiragem de até dois mil exemplares. A maior parte é de 500 ou mil exemplares. Para Emerson, um livro com a vendagem de 500 exemplares na região pode ser considerado um "best seller" na realidade local. Escritores com mais constância nas publicações como Raimundo Araújo, o próprio Daniel Walker, Emerson Monteiro, José Flávio, normalmente atingem essas marcas, entre tantos outros.

O destaque da região na produção livreira vem de uma história rica. Tem a produção científica, além das publicações na área da religiosidade popular, centrada na figura mítica do Padre Cícero. Também há as obras de cultura popular, poesias, romances, história social, libertária e esporte.

São temas diversificados, que envolvem todo um cabedal de conhecimentos, onde o mais importante, de acordo com Emerson Monteiro, é que não fiquem sem registro. Ele idealiza que um dia toda essa produção seja reconhecida pela academia e haja inclusão nos concursos. "Afinal, é a história regional que está sendo registrada ao longo do tempo, com o importante resgate da memória, além de literatura nos seus mais diversificados gêneros", enfatiza.

Este ano, a pretensão é que fossem lançados e relançados em Juazeiro do Norte cerca de 100 livros, dentro da comemoração do Centenário da cidade. Pode não chegar a tanto, mas é um movimento que se gera em torno de um mercado que tem se mantido ao longo de décadas em todo o Cariri.

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