Sebastián Piñera ao lado de Manuel Gonzalez, um dos 33 mineiros que foram resgatados da mina San José
FOTO: REUTERS
Para o presidente do Chile, o país será lembrado não mais por Pinochet mas pela coragem dos mineiros
Santiago. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, disse que o resgate dos 33 mineiros serviu para mudar a imagem internacional do Chile, que agora será lembrado pela sua coragem e não pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
"O Chile será lembrado e reconhecido não por Pinochet, mas sim como um exemplo de união, liderança e coragem, fé e êxito", disse em uma entrevista ao jornal "The Times".
Em suas declarações, Piñera, que vive um momento de grande popularidade devido ao seu apoio constante aos trabalhadores resgatados, ressalta que espera que esta nova imagem de seu país sirva para que "empresários britânicos invistam mais no Chile". O presidente chegou, ontem, ao Reino Unido para uma tour na Europa. Piñera visitará também a França e a Alemanha.
O presidente do Chile, que permaneceu na mina de San José durante toda a operação de salvamento, se encontrará amanhã com o primeiro ministro do Reino Unido, David Cameron, e também será recebido pela rainha Elizabeth 2ª.
Na entrevista ao "Times", disse ainda que leva na viagem pedaços de pedras da mina para entregar à Cameron e à rainha como lembrança.
Resgate:
Na última sexta-feira (15), o hospital de Copiapó confirmou a alta de 31 dos 33 mineiros que foram resgatados na semana passada.
Foram 69 dias de reclusão a 622 metros de profundidade - 17 dias sem que o mundo lá fora soubesse se estavam vivos ou mortos. Após quase 23 horas de esforços, o Chile entrou para a história na quarta-feira (13) com uma operação de resgate sem precedentes, e os 33 mineiros viraram celebridades aos olhos do mundo.
Apenas dois mineiros continuam internados em observação na Associação Chilena de Segurança, com casos sem alta complexidade médica, segundo a diretora do serviço de Saúde do Atacama, Paola Neumann.
Traumas:
Os 33 homens devem enfrentar um desafio de se recuperarem emocionalmente após o trauma de passar mais de dois meses em condições desumanas - extrema umidade e temperaturas de 40ºC. O trauma pode levar meses para dar sinais.
FIM DO PESADELO:
Resgatado diz que trabalhará em mina
Copiapó, Chile. Viver quase 70 dias preso em uma mina, a 700 metros sob a terra, foi "terrível", apesar dos "bons companheiros" e da "boa organização" do grupo, declarou o mineiro Yonni Barrios.
"Já imaginou você a 700 metros de profundidade? Foi terrível", disse Barrios, 50 anos, já instalado em sua humilde casa.
Barrios, que teve um importante papel como enfermeiro do grupo de 33 operários retidos na mina San José, garantiu que voltará à mineração, apesar da "traumática experiência".
"Sim, continuarei sendo mineiro", afirmou, ontem, ao sair do hospital de Copiapó, no norte do Chile, onde foi submetido a uma bateria de exames após o resgate.
"Vou descansar um pouco, mas voltarei à mineração", garantiu Barrios, que ainda tem problemas "na vista e nos dentes" e deverá ser submetido a "controles psicológicos".
Segundo o mineiro, sua companheira Susana foi o principal incentivo para seguir em frente durante o pesadelo no fundo da mina: "Várias vezes perdi a esperança, mas é preciso ter um incentivo para se viver, e ela foi meu incentivo".
Barrios destacou que a experiência teve "muitas coisas positivas": "os 33 companheiros, os melhores", assumiram distintas funções e se organizaram em um sistema "bem democrático".
"Lá não havia líderes, era um grupo democrático. Votávamos sempre para decidir o que fazer", disse o mineiro, ainda de óculos escuros para se proteger da luminosidade.
"A união foi a chave. Eu era o encarregado de informar sobre as doenças, entregava os medicamentos, monitorava os sinais vitais dos meus companheiros" e relatava a situação à equipe médica fora da mina.
"Os primeiros 17 dias foram terríveis, mas depois tudo melhorou. A sonda nos ajudava a ter comunicação, alimentação, notícias, chegamos a ter eletricidade", afirmou Barrios, completando que seu objetivo é descansar por alguns dias.
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