Evaldo "Bola" Machado transforma quinquilharias em inventos que agradam crianças e adultos, como calhambeques e um "Ford", e ainda ensinam boas práticas.
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Criador de três superautomóveis estimula a curiosidade da meninada com suas invencionices.
O inventor de invenções. Esse é seu Evaldo "Bola" Machado, 50. Transformar "quinquilharias", restos de sucatas, pneus de bicicleta, esteiras de cama, enfim, quase tudo que parece não ter serventia em carros que estimulam à curiosidade de crianças, idosos e adultos moradores do bairro Rodolfo Teófilo.
Com seus veículos adaptados e ecológicos, feitos por ele mesmo, o "senhor buginganga" circula às ruas da Capital ensinando boas práticas de convivência no caótico trânsito de Fortaleza.
"Aproveito as invenções para educar as pessoas, repassar cultura, falar da importância da reciclagem de materiais e de como se portar no trânsito. Com educação e solidariedade tudo se organiza", disse o "Bola", como é conhecido o entregador de água e jogador de embaixadinhas que se diverte com suas geringonças como se vivesse num mundo só seu, na "inventolândia".
Os inventos de Evaldo "Bola" Rodrigues parecem simples, mas encantam pela genialidade: a bicicleta que virou um carro à pedal, um protótipo de veículo bicombustível todo de madeira simulando um "Ford" de 1919 e um velocípede em tamanho adulto.
Essas engenhocas parecem divertir o jovem senhor que, com alma de criança, se transveste de bebê ou de palhaço para montar nos calhambeques. Não faltam curiosos, que lhe pedem uma carona nos seus exóticos meios de locomoção.
Garagem:
"Eu tenho prazer e me divirto com tudo que faço. Eu invento coisas para tentar melhorar o mundo e trazer ensinamento para a meninada", disse o inventor já rodeado de curiosos quando tirou da sua velha e desarrumada garagem os carros, antes cobertos e empoeirados, longe da fama. "Só saio nos meus carros de vez em quando. Mal consigo andar de tanta gente pedindo para tirar uma foto", citou.
O carro "pronta entrega" - todo feito de madeira, inspirado em modelo clássico com direito à buzina e bengala de época - é um sucesso no bairro. Andando lento, mas com charme, o calhambeque é conhecido por todos e alcança uma velocidade de cerca de 40 quilômetros por hora, funcionando com dois tipos de combustíveis. "Acho esse carro muito bonito, tem personalidade", disse o vizinho, Hadriel Pereira Cruz, 18.
O outro invento, um veículo que é mistura de carro e bicicleta inspirado, segundo Evaldo, em um jipe de guerra alemão, é todo ecológico. "Peguei o pneu, o pedal e a sela, juntei tudo com uma cabeceira de cama, com peças de jipe e fiz esse primeiro carros ambientalmente correto do mundo, que funciona com uma simples pedalada", riu.
Sua nova invenção - o velocípede gigante - saiu do forno há poucos dia e já faz sucesso com a garotada. A cada volta que dava pelas ruas do bairro, a frase mais ouvida era: "posso dar uma volta?". Entre uma geringonça e outra, ele tem um sonho: lançar o museu das invenções, nos fundos da sua casa simples, mas cheia de curiosidade e sabedoria de quem, desde menino brincava de inventar.
INSPIRAÇÃO:
Inventor utiliza papel e madeira em suas façanhas
Na "inventolândia", Evaldo "Bola" cria tudo, de pássaros exóticos de papel machê até bens úteis para a casa feito de material reciclado. Contando sobre o seu passado, lembrou da figura que lhe inspirou a trabalhar com arte manual, o "velho" Dias. "Dele eu herdei o gosto pelo manuseio de materiais como madeira e ferro. Ele me inspirou a ser curioso", rememorou comentando sobre sua primeira paixão, uma Maria-Fumaça que conheceu em seus passeios com o pai, ora no aeroporto, quando pedia autorização para olhar os aviões, ora no cais e andanças na Capital. "Foram todas as mil vivências na infância que me transformaram no que eu sou hoje", disse.
Além de inventor, ele se orgulhou de ser um dos recordista de embaixadinhas na Capital. Declarou-se um homem multiuso: já foi músico, seminarista, vendedor de bombons, mímico, professor de piano e muitas outras façanhas que escondem por trás de um largo sorriso. Há algum um tempo entrava nos estádios de futebol fazendo embaixada, tocando violão e na companhia dos seus calhambeques virou ídolo da torcida do Ceará. "Fui até goleiro de futebol, acho que essa minha mania de inventar me deu criatividade para ser tudo. Acho que invento o que sou e o povo acredita".
No meio de tanta alegria, se esconde uma dor, a da falta de reconhecimento e de patrocínio para criar novos inventos. "Queria mais apoio, não faço nada para enricar, mas sim para educar", esclareceu.
Enquete:
Elogios
"Eu achei bacana o que ele cria. Faz carros bonitos e que dão até para andar pelas ruas da Cidade fazendo o maior sucesso"
Edmilson Gomes
60 ANOS
Comerciante
"Gostei porque ele usa sua inteligência e criatividade para coisas úteis. Que bom seria se houvesse carros assim"
Maria Marilene Alencar
53 ANOS
Costureira
MAIS INFORMAÇÕES:
Evaldo "Bola" disponibiliza suas criações para exibição pública em festas e eventos. Contatos pelo e-mail evaldobola@gmail.com
IVINA GIRÃO
REPÓRTER DN.
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