sábado, 20 de novembro de 2010

"PROTESTOS HOSTIS - Soldados brasileiros deixam as ruas do Haiti"

As manifestações diminuíram ontem, mas a população ainda saiu às ruas para pedir a saída dos soldados estrangeiros; ordem é para que os militares evitem confrontos com as pessoas.
FOTOS: REUTERS

Haitianos acusam militares estrangeiros de levarem a epidemia de cólera ao país e causam onda de violência

Porto Príncipe. Pela primeira vez, as tropas brasileiras que fazem o policiamento de Porto Príncipe, capital do Haiti, tiveram de deixar as ruas da cidade devido à hostilidade da população contra os militares, afirmou o major-general brasileiro Luiz Guilherme Paul Cruz em entrevista ao site G1.

Alguns haitianos acusam estrangeiros, principalmente soldados nepaleses da Organização das Nações Unidas (ONU), de terem levado ao país a epidemia de cólera e deflagraram uma onda de violência contra os militares.

A retirada brasileira aconteceu na última quinta-feira, e os soldados começaram gradativamente a retornar ontem, de acordo com Cruz. De acordo com ele, a ordem foi para que os soldados "evitassem enfrentamentos com a população". O brasileiro comanda a missão formada por 9 mil militares de 19 países.

Os protestos contra a presença dos soldados se intensificaram na quinta-feira, quando o Haiti comemora sua independência. "O mais fácil é apontar o soldado e dizer ele é o culpado. Ele é um estrangeiro, ele que trouxe a doença. E aí, uma vez feito isso, a percepção fica presente", afirmou Cruz.

Parte das tropas brasileiras foram transferidas para auxiliar na cidade de Captien Haitien, localizada no norte do país, onde os protestos têm sido mais intensos. A ONU chegou até a suspender o envio de ajuda humanitária para a população da região nesta semana, mas a situação já está sendo normalizada, segundo o major-general. Parte das estradas já foram desbloqueadas. Ontem, jovens queimaram pneus e jogaram pedras contra a Polícia haitiana.

"Durante três dias, deixamos de enviar ajuda humanitária porque a estrada ficou interrompida. Hoje, fizemos a abertura da estrada. Nós recebemos o pedido do próprio governo para que evitar o confronto e eles tratassem na esfera política a manifestação. E isso foi feito", explicou Cruz.

Cólera:
A epidemia de cólera já matou mais de 1.110 pessoas no Haiti. Cerca de 18 mil estão doentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o surto inevitavelmente chegará à República Dominicana, país vizinho, mas deverá ter consequências menos graves.

Muitos haitianos trabalham na República Dominicana e, como as infecções por cólera com frequência não produzem sintomas, a doença pode atravessar facilmente a fronteira, disse o porta-voz da OMS Gregory Hartl em um informe da ONU em Genebra, na Suíça.

"É completamente esperado que haja casos na República Dominicana. Estamos observando os primeiros sinais desses casos e trabalhamos com o governo da República Dominicana para preparar o país", afirmou Hartl. Ele estimou o número de infecções "ainda na casa de um dígito, provavelmente".

A cólera é tratada com sais de reidratação oral, ou soluções caseiras feitas com um litro de água, uma colher de sal e seis colheres de açúcar, mas pode ser letal, caso não seja combatida logo.

O porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, afirmou que as melhores condições sanitárias da República Dominicana indicam que a doença, que causa diarreia, deverá ser menos perigosa. "Não esperamos que sejam tão altos como no Haiti", afirmou ele, referindo-se aos indicadores de gravidade da doença e de mortes. As autoridades sanitárias da Flórida (EUA) registraram um caso confirmado de infecção por cólera.

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