sexta-feira, 26 de novembro de 2010

"CRÍTICAS À DEFESA - Ministro sul-coreano renuncia"

O ex-chefe da Defesa da Coreia do Sul Kim Tae-Young foi criticado porque o país demorou 13 minutos para contra-atacar e disparou "apenas 80 morteiros" contra os 170 do Norte
FOTO: REUTERS

Kim Tae-young pediu demissão após a resposta aos ataques da Coreia do Norte ser considerada insuficiente

Seul. Após ser alvo de críticas por não ter colocado em prática "respostas mais contundentes" à Coreia do Norte, o ministro da Defesa sul-coreano, Kim Tae-young, apresentou sua renúncia ao cargo ontem. A demissão foi aceita pelo presidente Lee Myung-bak.

A renúncia chega dois dias depois do ataque norte-coreano à Ilha Yeonpyeong, situada numa região disputada pelas duas Coreias, que matou dois civis e dois militares sul-coreanos.

O governo já havia recebido duras críticas da oposição, que pediu a saída de Kim e demandou respostas "mais firmes" frente às ameaças de Pyongyang. Membros do próprio partido de Lee e parlamentares da oposição acusaram o governo de ser demasiado fraco e responder tarde demais.

"Por que nós disparamos apenas 80 morteiros quando o Norte disparou 170?", questionou Sim Dae-Pyeong, presidente do opositor Partido do Povo.

Segundo a versão sul-coreana, os fuzileiros navais demoraram 13 minutos para contra-atacar, tempo considerado adequado pelo comando militar do país. Seul está investigando se a Coreia do Norte utilizou bombas termobáricas contra Yeonpyeong. Carregadas de combustível, elas têm mais poder de destruição do que explosivos convencionais.

Os legisladores também questionaram Kim sobre a aparente falta de informações da inteligência sobre o ataque.

Também ontem, Seul anunciou o reforço de suas tropas na fronteira com a Coreia do Norte. A presença militar será ampliada em Yeonpyeong e em outras quatro ilhas, segundo o porta-voz da Presidência sul-coreana, Hong Sang-pyo, segundo o qual há hoje cerca de 4 mil soldados na região. "Não podemos baixar a guarda", disse.

No campo diplomático, a China, o principal aliado da Coreia do Norte, disse, por meio de sua Chancelaria, que está "preocupada" com os exercícios militares que serão realizados a partir de domingo com navios de guerra americanos e sul-coreanos.

"A China rejeita qualquer provocação militar", declarou o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em uma visita a Moscou.

"A China se opõe a qualquer ação que mine a paz e a estabilidade na península coreana e expressa sua preocupação com estas manobras", afirmou, mais tarde, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hong Lei.

Rejeição ao diálogo:
A Coreia do Norte rejeitou a oferta de diálogo feita pelo Comando da Organização das Nações Unidas (ONU) na península, liderado pelos Estados Unidos e encarregado de supervisionar o armistício com o qual foi finalizada a Guerra da Coreia (1950-53). O Comando propusera que Pyongyang realizasse uma reunião militar entre generais para abordar a atual situação de tensão entre as Coreias.

O governo do país comunista rejeitou a proposta por considerar que "aparentemente não vê benefícios práticos nas conversas", informou um porta-voz do Ministério da Defesa da Coreia do Sul.

De acordo com o professor de Relações Internacionais e especialista em resolução de conflitos internacionais Heni Ozi Cukier, as únicas soluções possíveis para a solução do conflito seriam uma transição de poder no rígido regime norte-coreano ou, então, uma mudança no posicionamento da China.

A primeira possibilidade já está praticamente descartada, visto que o líder Kim Jong-il deve passar o bastão a seu filho, Kim Jong-un. A outra opção seria a China exercer maior pressão sobre a Coreia do Norte, mas isso também não parece perto de acontecer, avalia Cukier, que já trabalhou no Conselho de Segurança da ONU.

"PROVOCADORES"
Coreia do Norte acusa EUA por crise

A Coreia do Norte ameaçou, ontem, realizar mais ataques militares na Coreia do Sul, em resposta a qualquer "provocação" sul-coreana. Na opinião de Pyongyang, os Estados Unidos são parcialmente responsáveis pela troca de disparos de artilharia na última terça-feira.

"Se os provocadores fantoches sul-coreanos não voltarem à razão e cometerem outra provocação militar precipitada, nosso Exército realizará uma segunda e uma terceira séries de poderosos ataques retaliatórios físicos, sem hesitação", afirmou um representante das Forças Armadas da Coreia do Norte, que não teve o nome divulgado.

Washington também foi acusado por seu papel no traçado da "ilegal" fronteira marítima entre os dois países, após a Guerra da Coreia (1950-53), disse um representante em uma mensagem aos militares norte-americanos, citada pela agência estatal norte-coreana.

"O Mar da Coreia Ocidental (Mar Amarelo) tornou-se um lugar perigoso, onde o risco de confrontação e combates entre o Norte e o Sul é persistente, apenas porque os Estados Unidos traçaram unilateralmente a ilegal Linha do Limite ao Norte", afirmou o militar da Coreia do Norte, referindo-se à fronteira marítima entre os países. "Portanto, os Estados Unidos nunca podem fugir da responsabilidade pela recente troca de tiros", acrescentou.

A Coreia do Norte recusa-se a reconhecer a fronteira traçada unilateralmente pelas forças das Nações Unidas no fim da guerra. O país exige que essa divisão fique mais ao sul.

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