terça-feira, 30 de novembro de 2010

"COMBATE AO TRÁFICO - Policiais realizam varredura no morro do Alemão"

A polícia presente no Complexo de Favelas do Alemão realizou ontem uma cuidadosa operação de varredura nas casas dos moradores. Todos que entravam e saíam eram vistoriados
FOTO: REUTERS

O Exército deverá permanecer na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão por até sete meses

Rio de Janeiro. Apesar do clima de aparente tranquilidade, a Polícia ainda realizou ontem uma cuidadosa operação de varredura nas casas dos moradores do Complexo do Alemão, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou ontem que já existe um acordo entre o governo do Estado e o Ministério da Defesa para que o Exército policie os recém-reconquistados territórios da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão até que seja possível instalar duas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas comunidades. Cogitou-se um período de até sete meses a permanência de homens Exército nas favelas do Rio.

O comandante-geral da PM (Polícia Militar), coronel Mário Sérgio Duarte, afirmou que, mesmo após a tomada do território, as buscas aos traficantes no Alemão devem durar mais alguns dias, talvez meses. Em algumas áreas da comunidade, as casas e o comércio ainda estão sem água e sem luz.

Em nota, a Light, concessionária de energia elétrica do Rio, informou que os técnicos continuam trabalhando para restabelecer completamente o fornecimento de energia em algumas localidades do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, "mas seguindo as orientações da Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro".

O relações públicas do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), capitão Ivan Blaz, afirmou que ainda há regiões onde os bandidos estão oferecendo resistência e há troca de tiros.

As equipes da prefeitura limpam, gradativamente, as vielas e ruas do Alemão. Moradores relataram que a Polícia está limitando a coleta, para checar se há entorpecentes ou armas descartadas ou escondidas no meio dos resíduos.

Com o apoio das Forças Armadas, a Polícia ocupou o Complexo do Alemão praticamente sem resistência dos traficantes na manhã de domingo (28), após uma série de atentados ocorridos na cidade desde o dia 21, com 106 veículos queimados, atribuídos justamente a uma resistência dos criminosos à instalação de UPPs em 13 favelas cariocas. Moradores que entram na comunidade e deixam o local, assim como motos e carros, continuam sendo revistados pelos policias.

Balanço:
As operações nos morros e favelas começaram após uma série de ataques e incêndios a veículos. Até a tarde desta segunda-feira, havia o registro de pelo menos 51 mortos durante as operações policiais para conter a onda de violência. Houve a prisão de 123 acusados e a detenção de 130 suspeitos e apreensão de 164 armas e 77 granadas ou bombas caseiras, de acordo com balanço parcial.

A Polícia Civil fez na manhã de ontem mais apreensões no Complexo do Alemão. Foram apreendidos 45 kg de maconha, 1 kg de crack, balanças de precisão, máquinas caça-níqueis e motocicletas.

Balanço divulgado domingo (28) aponta que a Polícia já apreendeu cerca de 40 toneladas de maconha, 200 kg de cocaína, 10 kg de crack, 500 frascos de lança-perfume, 10 mil munições de diversos calibres, 50 coletes à prova de bala, 16 metralhadores e 50 fuzis.

Ocupação:
Segundo o governador Sérgio Cabral, a solicitação ao Ministério da Defesa para a permanência dos militares, quando formalizada, deve requisitar as tropas por um período de 6 a 7 meses.

A previsão é que as duas UPPs mobilizem entre 2.000 e 3.000 homens da Polícia Militar, a serem escolhidos entre os 7.000 novos policiais que se formarão em 2011.

A função do Exército, diz Cabral, será "um policiamento ofensivo permanente" na fase de transição até a implantação das UPPs. Em outras comunidades já pacificadas, essa tarefa coube ao Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar).

Criadas em 2008, as UPPs consistem em postos de policiamento comunitário instalados em favelas para garantir a manutenção da paz após operações policiais que desmantelaram o tráfico nesses locais.

As 13 UPPs já em atividade no Rio têm um efetivo de 2.272 policiais. Sozinha, a que será instalada no Alemão terá cerca de 2.000, ou 5% do efetivo da polícia no Estado.

Até agora, a maior UPP em funcionamento era a da Cidade de Deus, inaugurada em 2009, com 326 policiais.

Balanço:
40 toneladas de maconha, 200 kg de cocaína, 10 kg de crack, 10 mil munições de diversos calibres, 50 coletes à prova de bala, 16 metralhadores e 50 fuzis foram apreendidos.

123 pessoas acusadas de participar das ações do trafico no Rio foram presas e houve a detenção de 130 suspeitos, além da apreensão de 77 granadas ou bombas caseiras.

INVESTIGAÇÃO:
Galerias usadas para fuga

Rio de Janeiro. O Jornal Nacional exibiu ontem uma reportagem no qual a Polícia encontrou indícios de fuga dos criminosos do Complexo de Favelas do Alemão por uma rede de esgoto. As galerias que podem ter sido usadas como rota de fuga de traficantes no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, têm trechos altos o bastante para que um homem de até 1,70m ande sem se curvar. A Polícia passou a investigar se a obra de saneamento teria sido usada pelos criminosos após denúncia de morador feito ao disque-denúncia.

A rede de águas pluviais se mistura ao esgoto da favela. Uma equipe do Jornal Nacional entrou na galeria ontem com o capitão Ivan Blaz, do Bope.

Dentro da galeria, foram encontrados papéis usados para embalar cocaína, sinal de que os criminosos podem ter passado por lá. São quilômetros de túneis que se estendem por toda a comunidade.

Pela rede de esgoto seria possível seguir pelos túneis até o bairro do Engenho da Rainha e sair numa das principais avenidas da região, a dois quilômetros da área do conflito. Para o capitão do Bope, dessa maneira eles poderiam sair sem chamar atenção de ninguém.

Blaz afirma que os bandidos podem ter planejado com antecedência uma eficiente rota de fuga. O coronel Paulo Henrique Moraes, comandante do Bope, afirma que há sinais de que o projeto da rede de esgoto foi alterado, a pedido de traficantes, para facilitar a fuga.

Presídios federais

Desde o início da onda de violência no Rio de Janeiro, há duas semanas, o Sistema Penitenciário Nacional já recebeu 20 presos acusados de envolvimento em ações criminosas dos últimos dias.

O Ministério da Justiça colocou à disposição do Rio 50 vagas, mas esse número pode ser aumentado caso o governo do estado considere necessário.

Os presos o Rio de Janeiro foram enviados para a Penitenciária Federais em Catanduvas, no Paraná. Enquanto isso, os traficantes que estavam presos lá foram removidos para a unidade federal em Porto Velho.

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