terça-feira, 14 de setembro de 2010

"VELHO SERTÃO NOVO - Edição especial do Caderno da Seca é destacada"

Agricultor Antônio Ferreira da Silva tem água de qualidade no Sítio Mondubim, zona rural do Município de Tauá. A convivência com o semiárido é uma proposta viável.
CID BARBOSA

Fortaleza. O caderno "Seca: Retratos de um Velho Sertão Novo", publicada no último domingo, teve importante repercussão. O destaque principal foi para a abordagem diferenciada do tema e a busca de soluções para promover a convivência com o semiárido.

O Caderno é resultado de cobertura por todas as regiões do Estado, percorrendo cerca de seis mil quilômetros. O resultado são matérias que traçam uma nova percepção da estiagem, entre a permanência de velhos problemas e a inovação nas formas de alcançar a sustentabilidade produtiva.

A repórter Karoline Viana esteve nas regiões dos Inhamuns, Canindé, Norte, Maciço de Baturité e Região Metropolitana. A variedade de cores, espécies e matizes que compõem a caatinga e as agruras enfrentadas pelos povos do sertão são evidenciadas pelas imagens do repórter fotográfico Cid Barbosa. Os correspondentes do Regional Alex Pimentel, Antônio Vicelmo, Elizângela Santos, Honório Barbosa, Melquíades Júnior, Silvania Claudino e Wilson Gomes também contribuíram com a cobertura de suas regiões.

Para o titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Antônio Amorim, a principal contribuição do Caderno é trazer uma visão diferenciada da seca. Ele ressalta que o principal desafio é garantir não apenas a universalização do acesso à água, mas também permitir que as comunidades não deixem de ter uma atuação produtiva nesse período.

A presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), Teresa Farias, apesar de avaliar como procedente a abordagem dada ao tema, ressaltou que hoje há importantes projetos de preservação e recuperação da Caatinga. "Mas considero que é importante mostrar esse lado positivo da Caatinga, um lugar em que é possível trabalhar com sustentabilidade", afirmou.

Segundo o gerente regional da Ematerce no Crato, Adonias Sobreira, "Seca: Retratos de Um Sertão Novo" traz múltiplos assuntos que dizem respeito aos aspectos positivos e situações críticas relacionadas ao semiárido. São questões, diz ele, que ainda fazem parte da convivência do homem do campo. "Ainda há má distribuição em nível de Nordeste brasileiro, além de pouca educação em relação ao melhor aproveitamento dos recursos naturais", ressalta, ao destacar as formas primitivas de cultivo ainda utilizadas, como as queimadas.

O deputado estadual Dedé Teixeira, da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido, parabenizou a iniciativa. "O paradigma de convivência com o semiárido - e não simplesmente o combate à seca - necessita ser apropriado por todas as instâncias do poder público e da sociedade civil. É preciso que se apoiem iniciativas já existentes e que se implementem políticas públicas comprometidas com as populações habitantes do semiárido. Os governos estadual e federal tem investido em obras como o Eixão das Águas e a Transposição do Rio São Francisco, por exemplo, com o fito de garantir o abastecimento para os grandes contingentes populacionais, mas ainda há enormes desafios a serem vencidos, e as populações difusas estão entre eles. No caminho para atenuar ou solucionar os problemas, o primeiro passo é mostrar a questão com propriedade. E nesse aspecto, o Diário do Nordeste cumpre muito bem o seu papel".

Malvinier Macedo, do Centro de Pesquisa e Assessoria Esplar, destacou a mobilização de repórteres e correspondentes para oferecer ampla cobertura. Percorrer seis mil quilômetros por mais de 50 municípios é um fato que dá credibilidade às informações. "O semiárido e a convivência com este bioma, as dificuldades e avanços vivenciados pela população rural deste sertão nosso de cada dia estão muito bem retratados neste documento. As imagens fotográficas são muito boas, interessantes, ilustrativas e os mapas dão uma nota didática necessária. Ouvir e reproduzir as falas das famílias que têm água ainda de 2009 na cisterna e que cuidam muito bem deste reservatório e ouvir também quem já está recorrendo ao carro-pipa faz um retrato da realidade que se vê no sertão por estes dias".

Malvinier fez ponderações quanto a matéria sobre as cisternas abandonadas. "Ficou um tanto no estilo de denúncia a cisterna sem a casa. Mas lá, com certeza, já houve uma casa que foi derrubada e a cisterna decerto não foi colocada no meio do nada. Ficou no meio do nada. E como elemento da paisagem e exemplo de que as famílias com sua mobilidade contribuem para cenas assim. É fato que muitas famílias estão recorrendo ao carro-pipa. A água que caiu este ano foi pouquíssima e os açudes pequenos já estão secos. Além do problema de que nos poços e cacimbões a água é salgada ou salobra. Outra coisa interessante é mostrar os números referentes ao P1MC. E os depoimentos das pessoas, quer sejam as famílias que vivem no sertão, bem como as pessoas das instituições que levam as ações dos programas. São dados e fatos que dão o sinal da transformação que a ASA tem conseguido fazer no semiárido", disse.

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