terça-feira, 14 de setembro de 2010

"A confissão de Fidel Castro"

João Bosco Monte

O fracasso do socialismo cubano, que levou a nação caribenha à derrocada de sua economia e à miséria de seu povo, não é novidade para ninguém. O que sim é novo é que seja Fidel Castro quem o reconheça pela primeira vez, depois de ter defendido o dirigismo estatal absoluto durante mais de meio século.
A surpreendente admissão de Castro se produziu na última semana durante entrevista concedida a Jeffrey Goldberg, jornalista da revista estadunidense The Atlantic, a quem convidou a visitá-lo em Havana.
O perdurável ditador, que passou a presidência do país a seu irmão Raúl em 2006, ressurgiu à atividade pública depois de ter estado gravemente enfermo e anunciou sem rodeios que “o modelo cubano já não funciona, nem sequer para nós”.
Na realidade o modelo nunca funcionou. Sobreviveu artificialmente e aos tombos durante os 30 anos em que Castro manteve Cuba no bloco soviético, recebendo ajuda de todo tipo, em troca do respaldo a Moscou em sua insurgência belicosa com os Estados Unidos na época da guerra fria.
Mas o colapso da URSS em 1990 deixou ao regime castrista no desamparo de seus próprios erros, excessos e ineficiências. O resultado foi uma economia desestruturada, sem recursos para importar bens indispensáveis, e uma população condenada à racionada escassez de alimentos e de outros muitos produtos de primeira necessidade.
A afirmação de Fidel ao jornalista supõe uma mudança da posição que manteve o regime castrista desde que abateu a ditadura de Fulgencio Batista em 1959. O que não está claro é se essa mudança implica a decisão de tomar medidas corretivas. A encruzilhada que enfrenta Cuba é liberar sua rigidez ditatorial, tanto em política como economia, como preço para sair do isolamento e atrair investimentos externos que melhorem as condições de vida dos cubanos.
Depois da publicação do artigo de Goldberg, Fidel Castro afirmou que o jornalista interpretou erroneamente suas palavras e que continua afeiçoado às idéias da revolução. Fidel, entretanto, não tem argumentos para contestar que o regime vivido por Cuba já não é um modelo exportável a outros países, como tratou de fazer em seus primeiros anos, quando fomentou insurreições em outras nações do continente.
Fidel Castro parece não enxergar que é imperativo que a economia cubana se recupere. Vejamos os fatos.
A falta de liquidez atual do governo de Raúl Castro começou há meses e ainda que agora comece a colapsar, é um fenômeno que se arrasta desde o início deste ano. Estamos diante de uma combinação de fatores que se entrelaçam de forma demolidora onde a causa básica reside na diminuição da produção nacional de petróleo. Para piorar o quadro, acrescente-se que Cuba não consegue reexportar parte do petróleo recebido da Venezuela.
Além disso, as medidas de controle à moeda e a desdolarização provocaram a diminuição de divisas nos banco para garantir a liquidez monetária no exterior, dificultando o recebimento de novos créditos.
Fidel Castro acertou quando, mesmo por absoluto descuido, garantiu que “o modelo cubano já não funciona”.

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