quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"TEMPORARIAMENTE - Irã suspende apedrejamento"

A pena de morte foi suspensa, mas não oficialmente cancelada, afirmou o advogado de Sakineh Mohammadi Ashtiani
FOTO: AP

Governo afirmou que vai rever o caso da mulher condenada por adultério e pela morte do marido

Teerã. O governo iraniano anunciou, ontem, que suspendeu a condenação de morte por apedrejamento contra Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43 anos, acusada de adultério e também condenada a 10 anos de prisão por cumplicidade no assassinato de seu marido.

O anúncio foi realizado por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Ramin Mehmanparast. O porta-voz disse que o caso da mulher será revisado e por enquanto a pena está suspensa.

Mehmanparast criticou o fato de no exterior um "julgamento por homicídio" ter sido transformado em "uma questão de direitos humanos". Segundo o advogado de Sakineh, Houtan Javid Kian, não houve mudança no caso da sua cliente. De acordo com ele, a sentença de apedrejamento foi suspensa mas não oficialmente cancelada.

Kian afirmou ainda que sua cliente nunca foi formalmente julgada por ser cúmplice do suposto assassinato do marido, que teria ocorrido em 2005, e não teve a permissão de montar a própria defesa jurídica.

O filho de Sakineh, Sajjad Ghaderzadeh, afirmou que sua mãe foi condenada a 99 chibatadas por ter "propagado a corrupção e a indecência" após permitir a divulgação de uma foto sua sem véu no jornal britânico "The London Times".

A fotografia em questão foi publicada em 28 de agosto. Era a fotografia de uma mulher sem véu, que foi apresentada como sendo Sakineh. Na verdade, era outra pessoa, e o jornal acabou pedindo desculpas aos leitores pelo erro.

Influência de Lula:
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou, ontem, que "as gestões do presidente Lula" influenciaram a decisão do Irã de suspender a condenação.

Lula chegou a oferecer abrigo a Sakineh no Brasil, mas o Irã recusou a proposta. Vários países e entidades denunciaram o caso como um abuso e pediam a libertação da mulher, condenada por trair o marido e posteriormente acusada por suposto envolvimento na morte do esposo.

"Não podemos atribuir só a nós, mas certamente as gestões do presidente Lula terão tido um peso, como creio que já tiveram até agora, inclusive no que já aconteceu até hoje", afirmou o chanceler.

Amorim avaliou a decisão como um passo positivo. "Eu acho que é positivo que tenha sido suspenso. Evidentemente isso é apenas um passo. Nós sempre atuamos nisso com muito cuidado, porque a maneira real de defender a melhora real das pessoas não é com estridências, não é com condenações fáceis, mas mantendo uma atitude de diálogo como sempre fizemos. Se der certo, ótimo", afirmou.

O ministro reafirmou que é necessário, contudo, respeitar a soberania dos países. Mesmo assim, ele se mostrou confiante em que o governo iraniano suspenda em definitivo a condenação de Sakineh. "Vamos respeitar a soberania dos países e ao mesmo tempo esperar que um assunto como esse, que tocou o mundo inteiro, possa ter uma boa conclusão", afirmou.

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