quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"REDE PÚBLICA ESTADUAL - Escolas não atingem nível adequado para Ensino Médio"

Segundo o Spaece, 45,3% dos estudantes avaliados não têm domínio sobre as quatro operações matemáticas

Melhorou, mas a situação das escolas públicas de Ensino Médio do Estado ainda permanece crítica ou muito crítica. Segundo dados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) 2009, divulgados ontem pela Secretaria de Educação Básica do Estado (Seduc) com exclusividade para o Diário do Nordeste, das 482 instituições estaduais avaliadas em todos os municípios, nenhuma escola atingiu o índice adequado. Na avaliação de matemática, por exemplo, apenas duas instituições chegaram à média intermediária e, na língua portuguesa, somente 15 instituições obtiveram esse índice.

Em relação aos estudantes, os resultados também não são animadores. Para se ter uma ideia, 45,3% atingiram o nível muito crítico, ou seja, não têm o domínio sobre as quatro operações matemáticas, e somente 4,7% apresentaram o nível adequado. Em relação à língua portuguesa, 38,6% dos alunos avaliados só leem frases curtas na ordem direta e não sabem desenvolver textos simples. Apenas 5,9% dos estudantes atingiram o índice adequado na avaliação.

Comparativo

Em 2008, a situação era ainda pior. Das instituições avaliadas, 111 atingiram o nível muito crítico em matemática, já em 2009, o número caiu para 28. Quanto à avaliação de português, 120 tiveram média muito crítica. No ano passado, o número caiu para nove. Na avaliação dos alunos em 2008, 55,7% atingiram o nível muito crítico em matemática. Em português, o número foi de 42,8%.

No mesmo ano, apenas 2,5% dos estudantes alcançaram a média adequada em matemática e 2,8%, em língua portuguesa. Os resultados divulgados ontem mostram um aumento na evolução da aprendizagem. Porém, para a secretária de Educação do Ceará, Izolda Cela, ainda há muitos desafios a enfrentar no ensino público. Segundo ela, conforme os dados da avaliação do Ensino Médio, ocorreram avanços em vários aspectos, começando pelo aumento na participação dos estudantes, passando pelas melhores médias e por um acréscimo no tempo que os alunos passam realizando a prova. No entanto, afirma Izolda, ainda não foi desta vez que os estudantes saíram do nível crítico ou muito crítico.

Para ela, é preciso agregar medidas fundamentais à educação pública para mudar essa realidade. Por exemplo, o controle e o acompanhamento dos alunos, a melhoria dos processos pedagógicos, a identificação das necessidades dos estudantes e a oferta de alternativas de apoio a eles. Conforme ela, questões que compõem o núcleo de mobilização de mudanças.

Premiações

Na tentativa de reverter essa realidade, o Governo do Estado implantou, em 2008, uma premiação para os estudantes que atingirem a média de proficiência adequada na avaliação do Spaece. De acordo com Izolda Cela, no ano passado, foram distribuídos 800 computadores. Já este ano, serão premiados mais de três mil estudantes. "Esse acréscimo se deve ao aumento no número de alunos que realizaram a prova e atingiram o nível adequado. A premiação é um incentivo, mas deve vir atrelada a novas propostas pedagógicas", ressalta.

CONTRASTE
Indisciplina é causa de resultado ruim

Evasão, indisciplina, falta de compromisso e de base teórica das matérias estão entre os principais fatores que levaram a Escola Maria da Conceição Porfírio Teles, da Aerolândia, a ficar com um dos piores desempenhos no exame do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece).

A diretora da unidade de ensino, Semia Paula Gonçalves, disse que os alunos apresentaram uma pequena melhora, mas continuam avaliados como muito crítico. Por esse motivo, ontem, foi realizada uma reunião entre os professores e se chegou à conclusão de que a indisciplina é o principal fator para esse resultado tão ruim.

"Qualquer coisa é motivo para eles saírem, o índice de evasão é muito grande. Muitas vezes, uma briga com amigo ou parente. Agora, estamos fazendo um acompanhamento mais sistemático. Quando o aluno falta, vamos a casa, mas, às vezes, descobrimos que estão dormindo", lamentou a diretora.

Entre os alunos, a maioria apresenta dificuldade em aprender o conteúdo das disciplinas. É o caso de Isabelle Carneiro, de 16 anos, que achou a prova do Spaece difícil. "Eu não me interesso pelos estudos e fica mais difícil de aprender. Às vezes, tento prestar atenção, mas não aprendo de jeito nenhum. A professora diz que é porque sou dispersa", relatou.

Alisson Miguel, de 15 anos, sequer lembra que fez o teste. Já o jovem Alexandre Alves, de 16 anos, que está repetindo o 9º ano, considerou a prova muito difícil. Triste, ele relatou que, em junho, um amigo morreu assassinado com dois tiros na cabeça. "Foi marcante, ele era da nossa sala, mas não se interessou pelos estudos, envolveu-se com drogas. A partir daí, comecei a me interessar mais pelos estudos, vi que bagunça não é legal", admitiu, dizendo que, na sala, há muita brincadeira.

Situação bem diferente tem a Escola Adauto Bezerra, que apresentou um dos melhores desempenhos no exame. Na unidade, estudam 2.400 alunos, vindos de 130 bairros de Fortaleza e Região Metropolitana. Pelo menos 80% deles fizeram o teste. Desses, 92 alcançaram o nível adequado e receberão como prêmio um computador.

Augusto Oliver Furtado, de 17 anos, é um dos que atingiu a média adequada. Ele disse que achou a prova fácil, tanto que o próprio simulado que a escola realizou foi mais difícil. "Fui confiante para a prova, sabendo que tinha capacidade de conseguir. Mas, quando soube que ganhei um computador, não acreditei, fiquei tão feliz que quase chorei de alegria".

Ele atribuiu o bom desempenho da escola ao interesse dos alunos e à boa qualificação dos professores, que sempre fazem simulados, dão dicas de questões que podem cair em concursos públicos, além de incentivarem os estudantes.

FORA DA SALA DE AULA
14,8% dos alunos desistem de estudar

As condições socioeconômicas, a inserção prematura no mercado de trabalho e a falta de incentivo da família são fatores que, segundo a secretaria de Educação do Ceará, Izolda Cela, colaboram para o grande número de alunos que abandonam a sala de aula antes de concluir o curso. Conforme dados da Seduc, no ano passado, 14,8% dos estudantes do Ensino Médio desistiram de estudar.

Essa situação ainda é mais grave no 1º ano do Ensino Médio. Em 2009, 18,3% dos estudantes abandonaram o curso. No 2º ano, essa realidade foi de 13,8% do total e, no 3º ano, 10,5%. Segundo a secretária, no ensino noturno, é possível registrar um número maior de desistências. Izolda diz que o perfil e as condições de vida dos alunos que estudam à noite colaboram para o abandono, mas, ressalta a secretária, a escola pode e deve fazer mais.

Ela afirma que já foram feitas análises e discussões com os gestores sobre o ensino noturno, mas nenhuma ação efetiva foi implementada. "Acho que essa situação é algo que se coloca como desafio para a próxima gestão. Devemos olhar para o ensino noturno com todas as suas especificidades".

A titular da Seduc ressalta que é preciso ampliar o uso da tecnologia na sala de aula. Para ela, o ideal seria que existisse um computador para cada professor. A rotina e o material didático da educação noturna devem ser revistos urgentemente, além de haver a necessidade de uma melhoria nos processos de acompanhamento do aluno.

Diretor de Turma

Conforme ela, um projeto que visa reverter essa realidade já foi implementado em 2008 nas turmas de 1º ano do Ensino Médio das escolas estaduais. O projeto "Diretor de Turma" consiste na permanência de mais um professor em sala de aula, com a função de investigar as condições de aprendizagem, socioeconômicas e psicológicas do aluno. De acordo com ela, a iniciativa deve ser ampliada no próximo ano para mais escolas. "Temos relatos de algumas escolas que possuem o projeto e tiveram uma visível redução no abandono e uma melhoria na aprendizagem dos alunos".

KARLA CAMILA E LUANA LIMA
REPÓRTER / ESPECIAL PARA CIDADE DN.

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