sábado, 11 de setembro de 2010

"COLUNA - Lustosa da Costa - DN"

Pedro Nava
Os outros:
Aprendi com Pedro Nava que você está envelhecendo quando começar a achar os contemporâneos decadentes: "Vê como o Fulano está acabadinho". Quem está acabada é toda a nossa geração, a minha, a dele, a nossa. De fato, não se passa um dia em que um de nós não inteire 70 anos. No passado, 70 anos equivaliam a um século. Hoje, não. Somos septuagenários e ninguém se deu conta disso.

Vei:
Quando alguém se queixa de que está envelhecendo, costumo lembrar-lhe que quem não quer viver tal fase da vida, morra antes. É o que dizia mais civilizadamente Maurice Chevalier, para quem a alternativa era fatal.

Velhotes acesos:
No passado, o sujeito, nessa idade, se aposentava e ia para o fundo da rede, esperar a indesejada. Quando muito ouvia as novelas de rádio, antes de dormir cedo, porque naquele tempo ainda não havia televisão. Hoje, os velhotes estão acesos e, depois do Viagra, fazendo fila à porta dos motéis. Tenho contemporâneo, dois ou três anos nascido antes de mim, que só agora lembra, e lembra com tanto fervor, a vizinha, filha de crupiê de cassino do Ideal que, quando raspava os pelos das coxas, lhe pedia para conferir se o serviço fora bem- feito, se a pele estava lisinha, digna de ser acariciada. E ele, na inocência dos seus 14 anos, se encarregava de tal avaliação que não consegue esquecer.

Conceito:
O conceito de idoso mudou muito. Lembram os leitores de como as mulheres dantanho esqueciam o ano do próprio nascimento e, quando dele se lembravam, era com desconto de dez, 20 anos que as faziam quase da idade das netas? Hoje, não. Elas agradecem a Deus a idade, a vida e vão vivendo. As colunas sociais estão cheias de "moçoilas" anunciando estar completando 60 anos, em plena forma. E às festas comparecem as nonagenárias que não se cansam de dançar com os netos ou com estes profissionais de festas que tanta alegria lhes causam.

Vexames:
Antes de chegar aos 72, fui muito mais moço. Nem por isso escapei de vexames. Sempre conto que tinha 40 e poucos anos e voltava no velho Fusca que meu pai me emprestava da Praia do Futuro, quando me detive à esquina do Náutico. Logo duas suburbanas, esplendidamente despidas, me abordaram. Uma delas botou a cabeça para dentro da janela do carrinho e caiu na besteira de indagar: "Tio, o senhor deixa a gente no Centro?" Claro que tio não dá carona a ninguém. No máximo até o motel. Danado da vida, respondi-lhes com um sonoro não.

Velho:
Lembro que, por esta época, ia saindo do estacionamento da Câmara dos Deputados quando cumprimentei Ary Ribeiro, colega de "O Estado de S. Paulo", que também encerrara suas tarefas. Meu filho Carlos Eduardo teve o desplante de indagar: "Quem é este velho?" Que diabo! O outro era de minha idade, dois ou três anos mais velho, se tanto. Um contemporâneo que meu filho alistara na legião dos anciãos, como eu.

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