quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"SAÍDA DO SENADO - Tasso despede-se com críticas ao governo Lula"

O tucano discursou por mais de meia hora para os colegas que compareceram ao Senado. Além de atacar o governo Lula, ele destilou também críticas à presidente eleita Dilma Rousseff
FOTO: AG. SENADO

O senador não lamentou sua derrota, ao contrário, deixou claro que ela representa uma vitória moral e política

Brasília (Sucursal) Em um discurso em tom sóbrio, sem grandes arroubos de emoção, mas com intenso tom crítico, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) se despediu oficialmente ontem da tribuna do Senado Federal, Casa para a qual não conseguiu se reeleger, na avaliação dos senadores aliados, devido à interferência direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Três vezes governador e uma vez senador pelo Estado do Ceará, Tasso Jereissati manteve até o fim os ataques ao presidente Lula, não somente quanto à atuação do presidente contra a sua reeleição, mas ao governo do presidente desde o seu primeiro mandato, há oito anos.

Tasso não lamentou sua derrota, ao contrário, deixou claro que ela representa para ele uma vitória moral e política. "Seria muito mais fácil render-me à chantagem e à pressão, cedendo diante de um acordo que facilitasse meu caminho. Mas este caminho seria a negação de minha história. Seria a negação dos meus compromissos com os cearenses e com o povo brasileiro. Se assim o fizesse, trairia os ensinamentos de meu pai, a quem sempre busquei honrar. Perdi uma eleição, mas não perdi minha história".

O primeiro ataque de Tasso foi direto para a presidente eleita, Dilma Roussef, ao afirmar que não cabe neste momento no Brasil a recriação da CPMF. "O problema da saúde não é de recursos, mas de gestão. Qualquer tentativa de recriação da CPMF hoje, nada mais seria do que um evidente estelionato eleitoral, vindo de uma candidata eleita que se comprometeu com o Brasil em diminuir a carga tributária".

Tasso defendeu o ferrenho controle dos gastos públicos, a retomada das reformas e criticou a falta de critérios técnicos para a distribuição dos ministérios do futuro governo, que deve subir das atuais 38 pastas do governo Lula para 40 ministérios no governo Dilma.

O senador cearense discursou por mais de meia hora, mas sua manifestação na tribuna durou quase três horas, já que todos os senadores presentes ao plenário quiserem render sua homenagem e fazer apartes ao discurso de Tasso Jereissati. Ao falar sobre seu papel na oposição ao governo Lula, Tasso lembrou que foi ele uma das primeiras pessoas a alertar a sociedade sobre a irregularidade no trânsito do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, nos corredores do Legislativo e do Executivo.

"Tive o desprazer de tomar conhecimento de uma figura até então mais afeta aos subterrâneos partidários, Delúbio Soares. Atentem para o absurdo: o tesoureiro do PT transitava sem o menor constrangimento, até mesmo neste plenário, em colóquios e cafezinhos com representantes de megaempreiteiras e senadores da base aliada. Do que estariam tratando, qual o seu interesse comum? Denunciei essa perniciosa relação. Mas, para minha enorme decepção, o que sobreveio foi um processo por injúria contra mim no Supremo Tribunal Federal, movido pelo Partido dos Trabalhadores e por Delúbio".

Denúncias:
Em um tom que causou réplica do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), único petista presente à sua despedida, o senador Tasso Jereissati elencou os escândalos que na sua opinião marcaram o governo Lula. "Chama a atenção o fato de que nada menos que dois ministros da Casa Civil, José Dirceu e Erenice Guerra, caíram por envolvimento em escândalos. Fica claro que ali, no coração do governo, era onde a serpente punha seus ovos. Bingos, Celso Daniel, Vampiros, Toninho do PT, Correios, Sanguessugas, Dólares na Cueca, Francenildo, Aloprados, ONGs, Bancoop, Getech, Gautama para citar apenas alguns, são verbetes da enciclopédia de escândalos que envolveram o Governo, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados".

Para Eduardo Suplicy, Tasso Jereissati é um grande político, um homem público que reconhecidamente trabalha para o bem do País, mas o senador paulista falta a Jereissati reconhecer o papel de grande estadista do presidente Lula. O senador petista elogiou o equilíbrio de Jereissati que apesar do tensionamento das relações governo e oposição sempre trabalhou em favor do País.

Elogios:
O trabalho de Jeressati em favor do Brasil e do crescimento do País também foi reconhecido pelo líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Também em aparte, o senador Arthur Virgílio demonstrou preocupação com os rumos da democracia brasileira com a perda que representa a não reeleição de Tasso Jereissati. "Tasso é um grande líder, não foi eleito para ser senador eternamente, um senador biônico. Ele veio e cumpriu com maestria seu papel, cumpriu o seu mandato e foi alvo de um ódio dirigido, e este ódio leva à mediocridade política".

Vários senadores, entre eles, Pedro Simon (PMDB-RS), Marco Maciel (DEM-PE), Agripino Maia (DEM-RN), Marisa Serrano (PSDB-MS) apelaram a Tasso Jereissati para que ele não abandone a vida pública. Segundo Pedro Simon, o Brasil precisa que Tasso assuma a presidência nacional do PSDB.

Além de ressaltar a importância política de Tasso, a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE) reafirmou sua amizade e apreço pessoal para com o Jereissati. "Tenho orgulho de estar sempre ao seu lado. Vossa Excelência não foi derrotado, é um vencedor", avaliou a senadora. Além de Patrícia, os senadores Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA), Cícero Lucena (PSDB-PB) foram outros parlamentares que avaliaram que a postura de Tasso dentro de sua atuação na oposição, sem ceder a pressões, faz com que ele saia de forma vitoriosa do Senado.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ressaltou em seu aparte a trajetória política de Tasso Jereissati, lembrou que convidou o senador cearense para ser seu ministro da Fazenda no período em que foi presidente da República. "Lamento extremamente a sua futura ausência. Vossa excelência é muito atuante e cumpriu uma carreira de um grande homem público, reconhecido por todos os seus colegas e merece os elegios que recebe". Ao agradecer os elogios de Sarney, Tasso Jereissati afirmou que foi o presidente do Senado o grande incentivador para o seu ingresso na vida pública.

Ao encerrar seu discurso, o senador cearense afirmou: "Aqui (Senado), muito aprendi, daqui levo muitas lições. Desfiz muitas certezas e firmei outras tantas. Mas a principal delas é a que o Brasil ainda cumprirá seu destino de grandeza, apesar dos falsos profetas e dos usurpadores desta esperança".

Fique por dentro
Trajetória política

Tasso Jereissati iniciou a carreira pública em 1986, aos 38 anos, quando foi eleito governador do Ceará.

Em 1994, foi eleito mais uma vez para o cargo, sendo reeleito em 1998 e tornando-se apenas o segundo político a governar o Estado por três vezes em quase 110 anos de história republicana. Ao fim do mandato, em 2002, foi eleito senador da República.

Criou a Subcomissão de Segurança Pública. Presidiu as Subcomissões de Desenvolvimento Regional e Reforma Tributária, sendo ainda titular das comissões de Constituição e Justiça e Assuntos Econômicos, além de suplente nas comissões de Infraestrutura, Desenvolvimento Regional e Relações Exteriores.

ANE FURTADO
REPÓRTER DN.

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