sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"DÉFICIT NO BOLSO - Orçamento familiar está mais apertado"

Em apenas seis anos, de 2003 a 2009, a aquisição anual de arroz polido caiu 40,5% e a de feijão, 26,4%
FOTO: KID JÚNIOR

Segundo estudo do IBGE, a diferença média da família brasileira entre receitas e despesas foi de apenas R$ 11,63

Manter a equação do que se ganha e do que se gasta é difícil para a maioria dos brasileiros. Não precisa ser especialista para descobrir disso. Qualquer dona de ou chefe de casa sabe que, muitas vezes, é preciso fazer "mágica" para passar o mês.

Um estudo divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovou a realidade do cotidiano das famílias brasileiras. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) levou em conta o período 2002-2003 e destrinchou a situação familiar em todas as regiões do País.

Dos nove estados da região nordestina, por exemplo, apenas dois - Rio Grande do Norte e Paraíba - apresentaram saldo positivo na relação entre rendimento e despesa monetária ou não monetária média mensal familiar. Todavia, o superávit no balanço do orçamento familiar foi muito pequeno, R$ 3,20 no Rio Grande do Norte e apenas R$ 0,33 na Paraíba.

A diferença média brasileira entre receitas e despesas foi de R$ 11,63, um pouco maior a desses estados. O Ceará ficou com déficit de R$ 58, 43 (R$ total de R$ 1.209,58 em gastos contra R$ 1.151,15 de receitas). O desempenho foi pior do que a média nordestina (-R$ 48,62), contudo, superior a de alguns estados vizinhos.

Os saldos negativos mais expressivos foram, na ordem, o de Sergipe (- R$ 143,03), Alagoas (-R$ 103,60), Pernambuco (-R$ 91,21) e Bahia (-R$ 73,11).

Alimento pago à vista:
A maior parte da aquisição de produtos alimentares para consumo em domicílio no Ceará é feita à vista, mas as compras a prazo são a opção adotada por alguns consumidores para produtos com preço menos acessível. No caso do peixe em filé congelado, por exemplo, 35,1% dos consumidores preferem pagar parceladamente.

Essa também é a escolha de 8,8% daqueles que adquirem frango empanado, de 6,2% dos que compram carne moída, 6,5% dos que levam carré suíno para casa. Assim como o fazem 8,4% dos que consomem massa de tomate, conforme a POF, no intervalo de 2008-2009.

Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) medido pelo IBGE, as carnes acumularam alta de R$ 30,68 de janeiro a novembro de 2010 em Fortaleza. De acordo com a última POF, os grãos são os produtos que mais são adquiridos de forma não monetária (doação ou produção própria).

Milho em grão (63,4%), milho verde em espiga (35,7%) e feijão-manteiga (69,5%) estão entre os que mais são obtidos por meio de produção própria. Carnes suínas (30,6%), carne de cabrito (27,2%) e leite de vaca fresco (16,7%) são produtos em que a produção própria têm participação significativa no total.

Sem comprar:
35,7 por cento é a quantidade de milho verde em espiga que é produzida por conta própria ou é originada de doação

CARDÁPIO DO BRASILEIRO:
Arroz com feijão não é mais símbolo

A compra desses dois itens caiu drasticamente entre 1975 e 2009. Mais recentemente, a queda foi acentuada

Rio. O feijão com arroz já não é mais o prato-símbolo do cardápio brasileiro. De 1975 para 2009, a compra desses itens caiu drasticamente, segundo o IBGE. O arroz polido teve redução de 60% na quantidade anual per capita adquirida - de 31,6 quilos para 12,6 quilos. A aquisição do feijão para consumo em casa passou de 14,7 quilos/ano para 7,4 quilos (queda de 49%). Já a compra do açúcar caiu de 15,8 quilos para 3,3 quilos (menos 79%).

A comparação foi feita entre as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, além de Brasília, levando-se em conta dados do Estudo Nacional de Despesa Familiar (1974/1975) e do levantamento "Aquisição alimentar domiciliar per capita", com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008/2009. Para fins de padronização, as quantidades medidas em litros foram transformadas em quilos.

A mudança de hábito se reflete na saúde. O Ministério da Saúde aponta que entre 1996 e 1997 aumentou em 10% as mortes provocadas por diabetes, doença que é ligada ao excesso de peso. A queda na compra de itens básicos acentuou-se mais recentemente. De 2003 para 2009, a aquisição de arroz polido caiu 40,5%, a de feijão, 26,4%, e a aquisição do açúcar refinado caiu 48,3%. No mesmo período subiu o consumo de alimentos preparados e de misturas industriais.

CRISTIANE BONFIM/ILO SANTIAGO JR.
REPÓRTERES DN.

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