sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"OPERAÇÃO TERREMOTO´ - Delegado e policiais presos pela PF acusados de extorsão"

Delegado Levi deu entrevista à Imprensa logo após receber o alvará de soltura da Justiça e, ainda, um salvo-conduto
FOTO: TUNO VIEIRA

Servidores teriam formado uma quadrilha para extorquir dinheiro de quem havia comprado automóveis irregulares

Um delegado da Polícia Civil, dois inspetores da instituição e, ainda, e um ex-PM foram presos, ontem, na cidade de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, sob a acusação de formarem uma quadrilha para extorquir dinheiro de donos de veículos irregulares.

Ao grupo também são atribuídos delitos graves como tortura, sequestro e peculato. Outro policial militar está sendo caçado naquele Município. A ação da PF, batizada de ´Operação Terremoto´, mobilizou cerca de 70 agentes federais, bem como, integrantes da Corregedoria Geral dos Órgãos da Segurança Pública (CGOSP).

Clones:
Há, pelo menos, três meses o caso estava sendo investigado, sob sigilo, pela Corregedoria Geral da SSPDS, com o apoio da PF. Segundo as autoridades, o esquema criminoso funcionava quando os acusados, utilizando informações privilegiadas através de cadastros da Polícia, identificavam as pessoas que haviam comprado carros ´clonados´, isto é, veículos roubados, mas que tinham sido ´esquentados´ pelos ladrões.

Os automóveis eram vendidos às vítimas com documentação e placas de outros carros semelhantes e legais. Ao descobrir a clonagem através dos programas SIP (Sistema de Informação Policial) e Infoseg (Informações de Segurança), os membros da quadrilha aproveitavam-se da situação para praticar as extorsões.

Quem estava de posse de automóveis clonados, conhecidos também como ´Pokemons´, passava a ser pressionado com ameaça de prisão e acabava rendendo-se à chantagem dos policiais, entregando o dinheiro exigido. "Mas houve casos mais graves ainda, com tortura e até sequestro", afirmou o secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Estado, Roberto Monteiro, em entrevista coletiva à Imprensa sobre o assunto, ontem à tarde, ao lado do superintendente da PF no Ceará, delegado Aldair da Rocha.

Nomes:
Durante a operação, foram presos o delegado-regional da Polícia Civil de Juazeiro do Norte, Levi Gonçalves Leal; os inspetores Anderson Soares Pimenta e Francisco Márcio Correia Cruz; além do ex-PM José Erasmo Gomes de Morais. Um PM da ativa, identificado como cabo Ricardo Antônio Bento Burgos, fugiu e está sendo procurado.

O delegado foi preso em flagrante delito porque em sua casa os ´federais´ encontraram um carro roubado e que havia sido ´clonado´. Trata-se de um Honda Fit que estava com as placas ´frias´ DQZ-4287, inscrição de São Bernardo do Campo (SP). No entanto, à tarde, o delegado foi posto em liberdade mediante habeas corpus (ver matéria coordenada). Os demais acusados foram transferidos para Fortaleza e continuam presos.

O advogado dos sindicatos dos delegados (Sindepol) e dos policiais civis (Sinpoci), Leandro Vasques, acompanha o caso e informou que já está tomando as medidas jurídicas cabíveis em relação aos policiais civis que permanecem detidos.

ENTREVISTA:
Levi Leal afirma que não praticou crime

Logo após ser transferido para Fortaleza, junto com os demais acusados, o delegado Levi Gonçalves Leal teve sua prisão relaxada, através de habeas corpus, por decisão do juiz substituto da 2ª Vara Criminal de Juazeiro do Norte, José Acelino Jácome de Carvalho. O magistrado também concedeu ao delegado um salvo-conduto.

No começo da noite, já em liberdade, Levi Leal concedeu entrevista à Imprensa, na sede do Sindicato dos Delegados de Polícia (Sindepol), ocasião em que afirmou ter ficado "surpreso" com a operação deflagrada pela Corregedoria e Polícia Federal. "Sou um cidadão de bem, tenho uma reputação ilibada e nunca pratiquei nenhum tipo de crime", ressaltou.

Quanto ao fato de haver sido encontrado um veículo Honda Fit, com placas clonadas, em sua residência, em Juazeiro do Norte, o delegado afirmou que a operação investigou uma "conduta atípica" da parte dele, "que pode até configurar um ilícito administrativo", explicou.

Leal confirmou que o automóvel estava com ele, mas negou que sua mulher usasse o carro, como informou o secretário de Segurança durante entrevista coletiva na tarde de ontem. O delegado desconhecia o fato de ter sido exonerado pelo superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos de Araújo Dantas. Apesar de exibir o alvará de soltura, ele reafirmou que não foi preso pelos federais, mas sim "convidado a acompanhá-los".

FERNANDO RIBEIRO/EMERSON RODRIGUES
EDITOR DE POLÍCIA/REPÓRTER DN

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