quinta-feira, 9 de junho de 2011

"Gleisi assume Ministério em evento com clima de comoção "

Publicado no DN em 9 de junho de 2011 
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Novo trabalho: Gleisi Hoffmann disse que não vai deixar de lado a atuação política, apesar de ter perfil técnico. Ela elogiou Palocci, destacando a capacidade de construção de consensos
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O ministro Luiz Sérgio, defensor de Palocci, teve a imagem desgastada e pode não ter condições de continuar no cargo 
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O vice-presidente Michel Temer não foi consultado sobre a nomeação 
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ministra prometeu respeitar a oposição; emocionada, Dilma agradeceu "ao querido amigo" Palocci

Brasília. Em um evento concorrido no Palácio do Planalto, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) tomou posse, ontem, no cargo de ministra-chefe da Casa Civil no lugar de Antonio Palocci, que foi pressionado a pedir demissão por causa da revelação de que seu patrimônio multiplicou-se 20 vezes nos últimos quatro anos.O clima da cerimônia era de lamento, sobretudo por parte da presidente Dilma Rousseff, que, com voz embargada, agradeceu, "do fundo do coração", o que o ex-colaborador fez por ela e pelo governo. Palocci foi o responsável pela pior crise enfrentada até agora por Dilma, mas foi aplaudido de pé na cerimônia. A presidente, no entanto, fez questão de chamar o ex-ministro de "querido companheiro" e de "amigo". "A pressão e as críticas são da regra democrática. Mas não vão inibir as ações do meu governo. Jamais ficaremos paralisados diante de embates políticos. Sabemos travar o debate e, ao mesmo tempo, governar", discursou Dilma."Assim como estou triste pela saída de um parceiro de luta, não posso deixar de afirmar que estou satisfeita pela solução que encontrei para assegurar a imediata continuidade do trabalho do gabinete civil da Presidência da República", acrescentou Dilma, que, diferentemente da maioria dos seus discursos, não citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente, que chamou a ministra de amiga, sugeriu que sua nova auxiliar se prepare bem porque, segundo ela, os compromissos do governo são ousados.DiálogoGleisi foi só elogios à chefe e a Palocci, de quem destacou a capacidade de trabalhar na construção de consensos. "Quero agir como a presidente, porque ela age da maneira certa, com clareza, razão e sentido público, sempre em defesa do Brasil. A presidente é um exemplo para mim e para as mulheres do nosso País", afirmou.A nova ministra deixou claro que sua função será fazer a coordenação, gestão e controle dos programas de governo distribuídos pelos diversos ministérios. Ela também lembrou da importância do Congresso, ao qual manifestou "apreço".Mais cedo, ao se despedir do Senado com um discurso, ela indicou que não deixará de lado a atuação política, apesar de ter recebido a incumbência de cuidar da gestão do governo. A nova ministra fez afagos no PT e no PMDB, principal aliado do governo no Congresso, e também na oposição - a quem prometeu uma "convivência respeitosa". Em uma sinalização de diálogo, ela afirmou que "viver exposta a pontos de vista contraditórios" é uma "condição" da vida política.A ministra também rejeitou o rótulo de "trator" do governo cunhado pela oposição nos quatro meses em que esteve no Senado. "Não considero esta a melhor metáfora para quem para quem exerce a política e sempre se dispôs a debater, ouvir e construir consensos", disse.Ao chamá-la de "esquentadinha", o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que considera essa característica uma "qualidade".A petista ficou por mais de uma hora na tribuna ouvindo sucessivos discursos de senadores aliados e da oposição em sua homenagem - inclusive dos principais líderes do PMDB, que elogiaram a escolha do seu nome.Cabeça erguidaAo transmitir o cargo, Palocci afirmou que saía "com paz de espírito e de cabeça erguida" e avisou que estava deixando o Planalto para "preservar o diálogo". O ex-ministro reconheceu ainda que "ficar no governo com a permanência do embate político não permitiria que eu desempenhasse normalmente as funções na Casa Civil"."Não carrego nenhuma mágoa, nenhum ressentimento. A política é assim que funciona. A imprensa é assim que funciona, é por isso que a gente luta pela liberdade de imprensa", disse.Palocci acrescentou que não queria fazer daquele ato "um momento triste". "A vida é uma luta permanente e não costumo me abater pelas pedras no caminho, avisados que fomos pelo poeta: havia e haverá sempre, pedras na nossa caminhada", discursou ele, que em 2006 foi obrigado a deixar o Ministério da Fazenda, atingido por outras denúncias.´Tempo certo´O ex-presidente Lula defendeu, ontem, a demissão de Palocci. "É sempre triste tirar um companheiro. Eu tive que tirar companheiros e é um sofrimento muito grande. Sei que a presidente tem autoridade e fez no momento certo", opinou.Sobre a escolha de Gleisi Hoffmann, Lula foi conciso. "Se a companheira Dilma escolheu, está certo", avaliou.Após 23 dias de crise, Palocci entregou, na última terça-feira, uma carta pedindo o seu afastamento. Na véspera da demissão, o ex-presidente afirmou que não havia conversado com Dilma sobre a situação de Palocci. "Não falei com Dilma, porque é uma questão muito pessoal. Eu já vivi (crises) e sei como é que é", disse.RELAÇÕES INSTITUCIONAISArticulador político pode ser o próximo ministro a cairA expectativa de setores do PT no Congresso é pela troca do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, depois da substituição de Antonio Palocci pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) na Casa Civil. Os petistas esperam e defendem que a mudança acorra até amanhã, para que a próxima semana já comece com uma nova cara na articulação política.Várias são as possibilidades veiculadas em Brasília. Uma delas é a volta de Alexandre Padilha para a pasta - hoje, ele ocupa o Ministério da Saúde. Outra hipótese estudada é a transferência da ministra da Pesca, Ideli Salvatti. Até mesmo o nome do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi cogitado. "Não estou sabendo de nada sobre uma possível saída de Luzi Sérgio", afirmou o senador José Pimentel (PT-CE).Consequências no CearáPara o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), é natural que a presidente Dilma Roussef seja obrigada fazer um remanejamento dentro de seu governo após a saída de Palocci. Indagado se a mudança na Casa Civil afetaria as relações o governo Cearense com a União, Cid afirmou que não existe esta possibilidade. "As mudanças no governo federal não afetam o Estado. Eu acho que no momento em que você mexe com o Palocci, outros setores do governo precisam ser contrabalançados. Se é o perfil da senadora que assumiu o lugar do Palocci, é um perfil de gestão e o Palocci além de gestão fazia também o trabalho de articulação política, então você vai ter que mexer, imagino, é prerrogativa da presidente, é ela quem demite e ela quem nomeia", analisou Cid.O governador afirmou não ter conhecimento das articulações políticas para a substituição de Luiz Sérgio. No entanto, ele tocou em outro ponto problemático para Dilma, ao lembrar que a ministra Gleisi é casada com o ministro as Comunicações, Paulo Bernardo, o que pode gerar mais mudanças do que estão sendo previstas."Eu não me surpreenderia se houvesse alterações em outras esferas de governo, inclusive no ministério das Comunicações, porque marido e mulher compondo ministério é uma coisa que pode acontecer", previu.ANE FURTADOSUCURSALADMINISTRAÇÃOPalocci pede afastamento do conselho da PetrobrasO ex-ministro Antonio Palocci solicitou afastamento do conselho de administração da Petrobras, segundo fontes do governo. Como conselheiro da estatal, ele participava de reuniões e recebia cerca de R$ 6 mil por mês.Ontem, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, havia defendido a permanência do ex-ministro no posto. O executivo afirmou que Palocci não teria motivos para deixar o assento no conselho, cargo para o qual havia sido eleito no fim de abril.Segundo Gabrielli, os convites feitos para integrar o conselho são direcionados às pessoas físicas e não estão atrelados ao cargo que elas ocupam no governo. "O ex-ministro Palocci foi eleito por um ano e deverá ficar este ano", afirmou.Já houve outro episódio em que um ex-ministro afastado do governo petista sob suspeitas de irregularidades foi mantido no conselho da Petrobras. O engenheiro Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia do governo Lula, foi conselheiro até abril deste ano, mesmo tendo deixado o ministério em maio de 2007, acusado de favorecer empreiteiras em licitações.´GERENTE DA GERENTE´Escolha desagradou ao PMDB e ao PSDBO PMDB não engoliu ainda a escolha da nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sem que sequer o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), fosse consultado. Principalmente porque, em vez de discutir a solução com seu vice, Dilma preferiu ter como conselheiro o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Temer só foi comunicado meia hora antes da saída de Palocci. A cúpula do PMDB ameaça se rebelar caso não tenha peso na escolha do novo articulador político.O foco da inquietação dos peemedebistas é o fato de Dilma ter escolhido uma "gerente" para a Casa Civil. Na avaliação deles, Gleisi será a "gerente da gerente", com a implantação de um modelo que "não resolve o problema da articulação política". Peemedebistas mais experientes, como o líder no Senado, Renan Calheiros e o presidente da Casa, José Sarney, entendem que, quando se tem um perfil técnico na presidência, o mais recomendável seria um perfil político na Casa Civil.Para os representantes do Ceará no Congresso, é importante que a nova ministra não atue como um "trator", como foi acusada por alguns parlamentares da oposição. A maioria da bancada elogiou a escolha de Gleisi para a Casa Civil e todos pediram maior diálogo com o parlamento. "Quem ganha com a ida de Gleisi para a Casa Civil é o Brasil", afirmou o senador José Pimentel (PT-CE), que ressaltou conhecer e a capacidade de articulação dela. "Uma mulher extremamente competente só resultará em ganhos para o governo", fez coro o também senador Inácio Arruda (PCdoB-CE).Já o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), disse que Gleisi não tem os atributos necessários para assumir a Casa Civil. "A ministra nomeada não tem nem a experiência, nem a estatura, nem a liderança que Palocci tinha", opinou.

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