sábado, 26 de março de 2011

"ESTRATÉGIA - Otan prevê três meses de missão militar na Líbia"

Militares franceses checam mapa antes de partir para missão na Líbia; objetivo seria proteger os civis
FOTOS: REUTERS

Aliança comanda zona de exclusão aérea, mas EUA ficam à frente dos ataques até que novo acordo seja alcançado

Bruxelas. Uma autoridade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirmou, ontem, que as operações militares na Líbia terão uma duração de 90 dias. O período pode ser encurtado ou estendido de acordo com as necessidades.

A Otan assumirá a orientação das operações de patrulhamento da zona de exclusão aérea aprovada pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). O comando deve ficar a cargo do general canadense Charlie Bouchard.

Ontem, aviões de guerra da coalizão bombardearam veículos militares do ditador líbio Muammar Kadafi no leste da Líbia, na tentativa de romper um impasse no campo de batalha e ajudar os rebeldes a tomarem a estratégica cidade de Ajdabiyah. Segundo os aliados, a força aérea de Kadafi está efetivamente neutralizada. As ações tem como objetivo proteger os civis na Líbia, de acordo com os países participantes.

O Pentágono anunciou, ontem, que os ataques da coalizão enfraqueceram as forças leais a Kadafi e, por isso, o ditador agora fornece armas a "voluntários" civis para que confrontem os rebeldes.

"Não estou certo de que sejam realmente voluntários, e também não sei quantos ele vai conseguir recrutar, mas considero revelador que ele julgue necessário buscar reforços", afirmou o chefe do estado conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, Bill Gortney.

O Exército líbio está bastante prejudicado, de acordo com Gortney. "Seus aviões não podem mais voar, seus navios permanecem no porto, seus depósitos de munições continuam a ser destruídos, as torres de comunicação foram abatidas, os bunkers de comando foram inutilizados", contabilizou.

Divergências continuam
A decisão da Otan de assumir o comando da manutenção da zona de exclusão aérea na Líbia não inclui a realização de ataques aéreos contra as forças de Kadafi, missão que continuará nas mãos dos Estados Unidos até que um novo acordo seja definido, explicou Gortney.

Segundo ele, a operação envolve três missões: imposição de um embargo a armas, uma zona de exclusão aérea e a proteção de civis líbios. A Otan já assumiu também o embargo a armas. Há divergências, porém, sobre a terceira missão, que inclui ataques para impedir Kadafi de atacar seus oponentes.

"Esta missão vai permanecer nas mãos dos Estados Unidos até o momento em que a coalizão estiver pronta para assumi-la. Minha expectativa é que isto também fique sob o controle da Otan, mas essas são discussões em andamento na instância política, e não quero especular no momento como ficarão", explicou o chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos.

DENÚNCIA
Moradores teriam sido sequestrados e espancados

Trípoli. Forças do governo líbio sequestraram e espancaram moradores de Zawiyah desde que recapturaram a cidade próxima da capital, Trípoli, há duas semanas, afirmou um porta-voz dos rebeldes que não quis ser identificado. Não foi possível confirmar independentemente o relato, já que o governo líbio restringe os movimentos nos territórios que controla.

O morador Mohsen, de 35 anos, que na quarta-feira fugiu de Zawiyah, cidade a 50 quilômetros a oeste de Trípoli, também falou em sequestros e espancamentos. "Muitas pessoas desapareceram. Não posso dar um número exato de quantas pessoas foram sequestradas, torturadas ou mortas. Mas eles lançam esses ataques principalmente contra civis suspeitos de esconder armas ou apoiar os rebeldes", afirmou ele, que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome.

VERSÃO DE KADAFI
Governo diz que 114 líbios foram mortos na ofensiva

Trípoli. No sétimo dia de ataques estrangeiros na Líbia, o governo do ditador Muammar Kadafi informou que, pelo menos, 114 líbios foram mortos na ofensiva. O porta-voz do ministério da Saúde do país, Khaled Omar, acrescentou que mais de 400 pessoas ficaram feridas, mas não especificou quantas das vítimas eram civis e se havia soldados entre elas.

"Nós consideramos imoral e ilegal matar até mesmo nossos soldados porque estamos assumindo apenas posições defensivas", afirmou o porta-voz do governo, Moussa Ibrahim.

O governo de Kadafi vem organizando visitas de jornalistas a funerais e necrotérios, mas os tours não têm ajudado os repórteres a apurarem possíveis mortes de civis em meio à guerra de informações: enquanto o regime denuncia mortes, a coalizão internacional afirma que está protegendo o povo líbio das tropas do ditador.

Em um enterro para 33 vítimas na quinta-feira, por exemplo, apenas 13 corpos estavam à mostra e não havia identificação sobre as vítimas ou dados sobre como morreram. Também não havia cenas comuns em funerais de considerados mártires pelos árabes, como mães chorando, parentes cantando ou fotos. O chanceler britânico, William Hague, afirmou que não há provas de que ataques tenham matado civis.

FONTE: DN.

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