terça-feira, 22 de março de 2011

"BOMBARDEIOS NA LÍBIA -Coalizão faz disparos perto da casa de Kadafi"

Prédio do complexo residencial do ditador foi destruído por um míssil; EUA dizem que Kadafi não é o alvo da missão

Trípoli. Fortes explosões seguidas de disparos da coalizão internacional foram ouvidas, ontem, perto da casa do ditador da Líbia, Muammar Kadafi. Um prédio do complexo residencial, situado a cerca de 50 metros da tenda onde Kadafi recebe seus convidados importantes, foi totalmente destruído.

Trata-se de um edifício administrativo que foi atingido por um míssil, confirmou o porta-voz do regime, Musa Ibrahim.

"Foi um bombardeio bárbaro, que poderia ter atingido centenas de civis congregados na residência de Muammar Kadafi, a cerca de 400 metros do prédio atingido", afirmou Ibrahim, que denunciou as "contradições do discurso ocidental". "Os países ocidentais dizem querer proteger os civis, mas atacam uma residência onde sabem que há civis no interior", acusou.

A coalizão internacional, liderada por Estados Unidos, França e Reino Unido, também bombardeou a cidade de Sebha, 750 Km ao sul de Trípoli, feudo da tribo Guededfa, de Kadafi.

Alvo
No Pentágono, o vice-almirante Bill Gortney garantiu que o objetivo dos ataques da coalizão não é o coronel Kadafi. "Posso garantir que Kadafi não figura na lista dos nossos alvos. Não visamos sua residência", afirmou.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, assinalou que seria "insensato" matar o ditador.

Segundo o porta-voz da diplomacia norte-americana, Mark Toner, o objetivo final é tirar Kadafi do poder. Mais tarde, o presidente Barack Obama contradisse a declaração, afirmando que o objetivo da ação militar é proteger os civis líbios, e não tirar Kadafi do poder.

Ontem, terceiro dia da ofensiva contra o regime líbio, insurgentes denunciaram que franco-atiradores leais a Kadafi mataram 40 pessoas e feriram 300 no reduto rebelde de Misrata.

Um porta-voz rebelde disse que em torno de 500 pessoas foram levadas "sob ameaças" ao centro da cidade, a 200 Km a leste de Trípoli, para manifestar seu apoio ao regime, provocando uma contra-manifestação de milhares de moradores.

Troca de comando
Ontem, Obama defendeu, no Chile, os ataques militares à Líbia. "Os contínuos ataques e ameaças de Kadafi contra civis e áreas povoadas por civis causam grande preocupação nas nações árabes vizinhas e constituem uma ameaça à região e à segurança e à paz internacionais", afirmou.

Ele ainda declarou que os Estados Unidos esperam transferir a liderança militar na Líbia aos aliados em questão de dias. De acordo com Obama, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) deve participar da coordenação da missão.

ITAMARATY
Em nota, Brasil pede cessar-fogo na Líbia

Brasília. O governo brasileiro pediu, ontem, o cessar-fogo na Líbia. Em nota, o Itamaraty "manifesta expectativa" pelo fim dos ataques no país "no mais breve prazo possível" para que a integridade da população civil seja garantida e haja abertura para negociação e diálogo.

O comunicado foi publicado pelo Ministério das Relações Exteriores depois de uma análise que durou boa parte da tarde de ontem. A decisão de divulgá-la estava tomada desde cedo, pouco depois da partida do presidente norte-americano, Barack Obama, que embarcou na manhã de ontem do Rio de Janeiro para o Chile. No entanto, o tom ao longo do dia foi suavizado.

O texto, divulgado no início da noite de ontem, não condena a missão das forças ocidentais nos ataques à Líbia, mas "reitera sua solidariedade com o povo líbio na busca de uma maior participação na definição do futuro político do país, em um ambiente de proteção dos direitos humanos".

Além disso, o Itamaraty reforça o apoio às missões de negociação enviadas ao país, a primeira liderada pelo ex-chanceler jordaniano Abdelilah Al Khatib, enviado especial das Nações Unidas, e um grupo de presidentes da União Africana.

O Brasil foi o último dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) a se manifestar. Desde o início dos ataques, Rússia, Índia e China já haviam colocado suas posições sobre o tema, semelhantes à brasileira.

Da mesma forma, a Turquia e a Liga Árabe registraram sua oposição, mas de forma mais contundente que o Brasil. Envolvida com a visita do presidente norte-americano, apenas ontem a presidente Dilma Rousseff tratou da nota pessoalmente com o Itamaraty.

O governo brasileiro absteve-se, na semana passada, de votar no Conselho de Segurança da ONU a resolução que autorizou o uso da força na Líbia e iniciou a atual ofensiva liderada por Estados Unidos, França e Reino Unido contra o regime de Muamar Kadhafi, confrontado por uma revolta popular iniciada em meados de fevereiro.

Ontem o ex-ditador cubano, Fidel Castro, considerou "uma guerra na Líbia algo mais inoportuno que poderia ocorrer neste momento". O governo cubano expressou sua "mais enérgica condenação à intervenção estrangeira" na Líbia e pediu que o conflito seja resolvido através do "diálogo e da negociação".

FONTE: DN.

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