quarta-feira, 23 de março de 2011

"ATAQUES CONTINUAM - Comandante de Kadafi é morto na capital líbia"

Avião-caça americano caiu, ontem, na Líbia, o que foi a primeira baixa da coalizão desde o começo dos ataques
FOTO: REUTERS

Hillary Clinton afirma que filho do ditador também pode ter morrido; aliados tentam resolver divergências

Trípoli. Um dos comandantes das tropas leais ao ditador da Líbia, Muammar Kadafi, foi morto na capital Trípoli, informou, ontem, a rede de TV Al Jazeera. O líder morto foi identificado como Hussein El Warfali. Não há informações se ele teria morrido em combates contra os rebeldes ou devido a bombardeios das forças estrangeiras.

A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, revelou, ontem, que um dos filhos de Kadafi pode ter morrido nos ataques aéreos da coalizão, mas que não há evidências suficientes disto.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seu colega francês, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, concordaram, ontem, que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) deve ter um papel importante na estrutura de comando da missão na Líbia.

Ficou decidido que a Otan assumirá o controle do embargo de armas ao regime líbio. O órgão afirmou que também está preparado para participar do estabelecimento de uma zona de exclusão aérea.

O futuro da intervenção militar na Líbia tem sido motivo de divergência entre França, Reino Unido, Itália, Bélgica, Dinamarca, Grécia e Espanha - que integram a coalizão. O Reino Unido e a Itália querem um planejamento da Otan, o que a Alemanha rejeita. Os Estados Unidos querem sair do comando da operação e a França quer manter um protagonismo na tomada das decisões.

Atualmente, as operações da coalizão são nacionais e coordenadas pelos quartéis-generais americanos de Ramstein (oeste da Alemanha) e Nápoles (no sul da Itália).

Ontem, surgiu outro atrito: a Alemanha, que se absteve na votação do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) contra Kadafi, retirou seus navios aportados na Otan para evitar o uso da força.

Queda de avião
Ontem, um caça americano F-15 caiu na Líbia, no primeiro acidente deste tipo de um avião da coalizão que participa da intervenção no país.

Segundo o almirante americano Samuel Locklear, a aeronave caiu devido a uma falha técnica, e os dois tripulantes estão sãos e salvos.

A intensidade dos ataques da coalizão diminuíram, ontem, na Líbia. "A menos que ocorra algo anormal ou inesperado, poderemos assistir a uma frequência menor dos ataques. Já vimos entre a primeira e a segunda noite uma redução importante da ofensiva de Kadafi", explicou o comandante da coalizão, o general norte-americano Carter Ham.

Aparição
Kadafi apareceu em público, ontem, pela primeira vez desde o começo das ofensivas contra a Líbia, no último sábado. Em sua residência de Bab el-Aziziya, em Trípoli, que foi atingida por um míssil da coalizão, ele fez um rápido discurso.

Ele afirmou que continuará lutando. "O país está preparado para a batalha, seja ela longa ou curta. Seremos vitoriosos no fim", afirmou o ditador.

As forças de Kadafi bombardearam, ontem, duas cidades do oeste da Líbia, matando pelo menos 40 pessoas, enquanto os rebeldes estavam imobilizados no leste. Entre as vítimas, estão quatro crianças que morreram quando o carro em que elas estavam foi atingido, de acordo com moradores.

Ao redor de Trípoli escutaram-se explosões e disparos de artilharia pela terceira vez seguida durante a noite. A televisão estatal líbia informou que muitos locais na capital foram atacados pelo que chamou de "cruzada inimiga".

Violência
40 pessoas morreram ontem, entre elas quatro crianças, em bombardeios das forças de Muammar Kadafi. O ditador prometeu que vai "continuar lutando" e que "vencerá".

CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO
Brasil é referência para mundo árabe

O professor egípcio Mohamed Habib elogiou, ontem, em entrevista ao Diário do Nordeste, a posição do Brasil de condenar a ação militar internacional que vem sendo desenvolvida na Líbia. O professor da Universidade de Campinas (Unicamp) foi o palestrante do debate sobre a "Revolução no Mundo Árabe" realizado ontem na Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Segundo ele, que também é vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe, ao se abster na votação que aprovou uma zona de exclusão aérea na Líbia, o País entende que a negociação pacífica é a solução ideal para este tipo de conflito.

"Caberia à ONU mandar seu dirigente para negociar com o ditador e enviar observadores para ver como o bloqueio aéreo vai funcionar. A relação do Brasil com o Oriente Médio é de um grande amigo", avaliou. Para Mohamed, os países centrais que fazem parte da comunidade internacional não estão conduzindo de maneira correta as mediações para pôr fim aos conflitos e promover a deposição do ditador líbio Muammar Kadafi.

Segundo o professor, em todo o Oriente Médio, o Brasil é tido como exemplo, não só pelo crescimento econômico, mas também por ele ter sobrevivido a uma ditadura militar. "Todo o mundo olha o Brasil como emergente, mas o Oriente Médio olha como referência porque o parâmetro que o Oriente Médio usa não é apenas o econômico, mas sim um país que foi dirigido de uma forma humana nos últimos anos", disse.

De acordo com ele, diferentemente do ex-ditador do Egito, Hosni Mubarak, Kadafi está acostumado a governar há 42 anos sem base de sustentação no exterior e, por isso, a influência política dos EUA na Líbia não representa um peso tão grande quanto no Egito.

"O apoio que Kadafi teve dos EUA, nos últimos dez anos, é uma simpatia sem alicerce profundo. Ele estava governando sozinho, apenas com o apoio dos filhos. Então, ele vai resistir até o fim. Ele vai ter um comportamento bem parecido com o Hitler: ou tudo ou nada", disse.

Mídias sociais
Mohamed avalia, ainda, que, os meios de comunicação marcam um momento histórico muito importante diante dos conflitos no mundo árabe. Segundo ele, pela primeira vez na história da humanidade, a grande mídia perde espaço para as redes sociais. "A informação vem em seu estado in natura e o mundo assiste o que tá acontecendo lá do outro lado".

JULIANNA SAMPAIO - DN.

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