sexta-feira, 22 de abril de 2011

"PUBLICADA NO CAMOCIMONLINE COM INFORMAÇÕES DO DIÁRIO DO NORDESTE"

HÁ CONTROVÉRSIAS

Embora muito se fale da falta de memória do brasileiro, a história de Tiradentes está na boca de qualquer criança: Joaquim José da Silva Xavier, um dos líderes de um movimento pela independência do Brasil, foi traído e enforcado em praça pública há 219 anos. Por ser pobre, foi o único participante a ser executado. Mas será que a versão oficial da história está correta? O professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Reginaldo Dias afirma que estudos recentes indicam que os fatos não foram bem assim.

Em primeiro lugar, a Inconfidência Mineira não buscava a independência do País, apenas a separação do território hoje equivalente a Minas Gerais da Coroa Portuguesa; Tiradentes não era uma figura de proa do movimento e também não era pobre, tendo um cargo de militar graduado; para completar, passava longe de santo. "Tinha escravos, era boêmio, vivia bem. Era um homem comum da época", acrescenta Dias.

O professor afirma ainda que, como a circulação de ideias contra a Coroa Portuguesa era considerada crime de lesa-majestade, a divulgação dos ideais do movimento se baseava principalmente na distribuição de panfletos, sem grandes discursos públicos. "Hoje em dia, Tiradentes mandaria spam, não teria um facebook", compara.

Por que então a figura dele ficou mitificada? A imagem de herói de Tiradentes foi construída a partir da Proclamação da República, quase cem anos após a morte dele. Durante a Monarquia, seria inconveniente louvar alguém que, afinal de contas, havia sido executado por ordem de D. Maria, a louca, avó de D. Pedro I e bisavó de D. Pedro II.

Com um novo governo republicano e a necessidade de criação de heróis, a imagem de Tiradentes se ajustou perfeitamente. A história traz elementos bíblicos: um traidor (Joaquim Silvério dos Reis), a execução pública e o perdão aos algozes - Ele teria dito ao ouvir a sentença que "mil vidas tivesse, mil vidas daria".

A eleição de um herói da Inconfidência Mineira ainda era mais segura para o novo governo do que a de um movimento mais radical e popular, como a Conjuração Baiana. Tiradentes passou a ser querido por representantes das mais variadas tendências: durante a ditadura, o nome dele foi vinculado a um grupo guerrilheiro ao mesmo tempo em que foi eleito patrono cívico pelo governo militar. "É um herói muito sólido", ressalta Dias.

Mesmo com a imagem heróica tendo sendo construída posteriormente, no entanto, Dias não retira a importância de Tiradentes: se não era pobre como se costuma dizer nas escolas, é verdade que era o menos abastado dos inconfidentes; se a imagem de Cristo brasileiro, com barba e cabelos longos - algo impossível para um militar - é uma peça de ficção, é fato histórico que assumiu sozinho a responsabilidade pela Inconfidência. "Foi um cara que não transigiu, não vacilou, não teve um papel infame", avalia o professor.

Postado por Tadeu Nogueira
Com informações de O Diário

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