sexta-feira, 8 de abril de 2011

"ATAQUE NO RIO DE JANEIRO - Massacre sem precedentes no País mata pelo menos 12"

Wellington era testemunha de Jeová na adolescência, religião seguida também por sua mãe

As cenas de terror, na manhã de ontem, em escola carioca deixaram além de várias vítimas, o Brasil inteiro em pânico

Rio de Janeiro. As paredes da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo (zona oeste do Rio), estão marcadas por mãos de crianças manchadas de sangue. Cerca de 400 estudantes entre 9 e 14 anos estavam no local durante o ataque executado, Wellington Menezes de Oliveira, na manhã de ontem.

A escola municipal foi palco do crime mais brutal num colégio do País. O jovem, ex-aluno da Tasso da Silveira, disparou diversos tiros contra os alunos e deixou pelo menos 12 mortos e 12 feridos. Do total de 24 vítimas, 20 eram mulheres.

O massacre deixou a capital carioca em choque. "Um lugar feito para construir sonhos, foi transformado em um inferno", disse o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB). "Ele é um psicopata, um animal", desabafou o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

Por volta de 8h15, Wellington, de 23 anos, disparou dezenas de tiros em duas salas no primeiro andar da escola. Dez meninas e dois meninos, entre 12 e 15 anos, morreram. Outros dez meninas e dois meninos ficaram feridos. Três deles em estado grave. Uma delas, Taiane Tavares Pereira, de 13 anos, foi atingida por três tiros, teve lesão na medula e corre risco de ficar paraplégica.

Socorro
Alertado por duas meninas que, mesmo feridas, conseguiram fugir da escola, o sargento da Polícia Militar Márcio Alves trocou tiros com Wellington no corredor do primeiro andar. O atirador foi atingido na perna, caiu na escada e, segundo Alves, se matou com um tiro na cabeça. Toda a ação não durou mais do que 15 minutos.

O governador do Rio decretou luto oficial de sete dias em memória das vítimas da escola de Realengo.

Wellington conseguiu entrar nas escola facilmente ao se identificar como ex-aluno. Estava bem-vestido e com uma mochila nas costas. Subiu direto para a sala de leitura, no primeiro andar. Minutos depois começou a tragédia. Wellington colocou o cinturão com carregadores, entrou numa sala da 8ª série, e anunciou: "Vim fazer a palestra". Em seguida, começou a atirar com um revólver 38 mirando na cabeça das crianças sentadas nas primeiras filas. A outra arma, um revólver 32, não foi usada.

Alguns alunos se jogaram debaixo das mesas. Outros tentaram fugir. Quando Wellington parou de atirar para recarregar a arma, Patrick da Silva Figueiredo, de 14 anos, que estava nas fileiras de trás, saiu correndo de mãos dadas com uma amiga. Mas não deu tempo. Wellington acertou a menina, Patrick escorregou numa poça de sangue e quebrou o dedo do pé.

Uma aluna que presenciou Wellington atirando nos colegas disse que o criminoso atirou nos pés dos estudantes para que eles não fugissem. Em seguida, foi para a sala em frente e fez novos disparos. Segundo alunos, ele mandava que os meninos fossem para a parede. Mesmo diante das súplicas para não serem mortas, Wellington atirava na cabeça das vítimas. Quando estava no corredor, indo para o andar de cima, Wellington encontrou com o sargento Márcio Alves. Na troca de tiros, Alves acertou Wellington na perna. Em seguida, segundo o PM, ele se matou com um tiro na cabeça.

PM aclamado
Triste, mas com a certeza do dever cumprido por ter evitado que a tragédia fosse ainda maior. Assim se sentia o sargento de 38 anos. Ele deixou o local na tarde de ontem aclamado como herói. Foi aplaudido e cumprimentado por parentes de alunos e curiosos que se aglomeravam no local. Alves trabalhava numa fiscalização contra transporte irregular numa rua a poucos metros da escola, quando recebeu pedido de socorro. "Se eu tivesse chegado cinco minutos antes, poderia ter evitado essa tragédia, mas ainda assim me sinto com o dever cumprido. Tenho um filho dessa idade, adolescente", afirmou.

A Polícia Civil identificou ontem o dono do revólver 32. A arma está registrada no nome de um morador da zona sul do Rio. Em depoimento à Polícia, ele disse que a arma pertencia ao pai, e foi roubada em 1993. O outro revólver, calibre 38, está com a inscrição raspada.

PERFIL
Assassino era visto como rapaz tímido e introspectivo

Um rapaz calado, tímido, introspectivo, que não se envolvia em confusão nem desrespeitava ordens. Na escola, na vizinhança e no trabalho, a descrição de Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, é a mesma, assim como a surpresa com a violência do ataque de ontem.

Na adolescência, Wellington foi adepto da religião cristã Testemunhas de Jeová, a mesma seguida pela mãe adotiva, Dicéa Menezes de Oliveira, que morreu no ano passado. O presidente da Comissão de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas do Brasil, Jihad Hassan Hammad, rechaçou a associação o atirador que atacou inocentes em uma escola pública no Rio à religião.

Segundo a psicanalista Laéria Fontenelle, do Laboratório de Psicanálise da Universidade Federal do Ceará (UFC), a carta deixada por Wellington demonstra que ele apresentava um "estado delirante". "Ele podia estar drogado, podia ter comportamentos psicóticos. É preciso uma investigação profunda", afirmou.

HORAS DE PAVOR
Pais se desesperam ao buscar notícias

O desespero de pais e outros parentes das vítimas da tragédia no bairro de Realengo era incontrolável. Choro e gritos de pavor resumiam a dor dos que reconheciam as crianças assassinadas na Escola Municipal Tasso da Silveira. No Instituto Médico-Legal (IML), no centro, Waldir Nascimento, pai de Milena dos Santos Nascimento, de 14 anos, aluna do 6º ano, deixou o prédio em estado de choque, depois de identificar o corpo da filha.

"Ela adorava a escola, não tinha faltado nenhum dia este ano", contou Waldir, que tem mais duas filhas no colégio. Elas não sofreram nada. Enquanto respirava com dificuldade, e sempre amparado por parentes, Waldir eximiu o Estado de culpa no episódio. "O que ele (o atirador) fez lá podia ter feito na Central do Brasil ou na praia. Não vou culpar o governo", declarou o pai.

Suely Guedes, mãe de Géssica Guedes Pereira, de 15 anos, já havia reconhecido a filha por meio de uma foto no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, mas a família só confirmou a morte da adolescente no IML. "O sonho dela era entrar na Marinha. Estava estudando para isso", contou a mãe, inconformada com a perda. "Olhar para as coisas dela e o quarto vai ser muito difícil", disse.

A peregrinação dos parentes por vários hospitais da capital carioca e o IML era intensa e durou o dia inteiro. Daniele Azevedo estava em busca de informações sobre a prima, Larissa dos Santos Atanásio, de 15 anos, e sua tensão aumentava à medida que não avançava na investigação. "Os amiguinhos dela disseram que ela levou um tiro no braço, mas não conseguimos encontrá-la", disse.

Parentes de Larissa perambulavam pelo Hospital Albert Schweitzer com duas fotos da estudante. Horas depois, todos deixaram o local transtornados. Larissa havia sido identificada como uma das vítimas numa foto levada por policiais.

Histórias dramáticas se espalhavam pelos corredores do hospital. Entre os mais abalados, muitos preferiam não dar declarações. Foi o caso de Perla Maria de Paes, tia das gêmeas Bianca e Brenda, de 13 anos. A primeira morreu com um tiro na cabeça, Brenda foi atingida no braço.

Segundo o diretor de Polícia Técnica e Científica do Estado, Sérgio da Costa Henrique, a maioria dos disparos foi no tórax e na cabeça das vítimas, o que dificultava o reconhecimento dos corpos. "É um trabalho complicado, pois é difícil para pais e mães que perderam crianças que estavam no seu auge, estudando", disse.

Na tarde de ontem, uma fila foi formada no hemorio - hemocentro da capital fluminense - por pessoas que queriam ajudar os feridos do massacre. Um total de 630 coletas foram feitas.

Segundo especialistas, as crianças que testemunharam o assassinato dos colegas vão precisar de tempo e ajuda psicológica para retomar o cotidiano. O período de luto e de readaptação pode variar entre as crianças e depende de condições psicológicas e psiquiátricas e dos parentes de cada uma.

JORNAIS - PELO MUNDO:
The NY Times (EUA)

Onze crianças mortas em escola brasileira

Homem armado com duas pistolas entrou em uma escola brasileira no Rio de Janeiro e matou onze crianças, feriu outras 13 e se suicidou em seguida. A presidente Dilma Rousseff lamentou o massacre.

El País (Espanha)

Ex-aluno mata onze crianças em escola

Brasileiro de 23 anos invadiu a escola no Rio de Janeiro na qual havia estudado e matou dez meninas e um menino entre 12 e 14 anos. Ele se matou após ser rendido.

Guardian (Reino Unido)

Tiroteio em colégio no Brasil deixa 12 mortos

Um jovem de 23 anos abriu fogo em uma escola do Rio de Janeiro, deixando, pelo menos 11 mortos. Ao ser ferido por um policial, o atirador se matou. A presidente Dilma declarou três dias de luto oficial.

Le Monde (França)

Onze morrem em ataque em colégio brasileiro

Um homem de 23 anos atacou uma escola a tiros no Rio de Janeiro e se matou após ser cercado pela Polícia. Onze crianças entre 12 e 14 anos morreram e outras 13 ficaram feridas.

Clarín (Argentina)

Tragédia no Rio: dor, sangue e desespero

O massacre de onze crianças em uma escola no Rio de Janeiro causou comoção em todo o Brasil. Um ex-aluno invadiu o colégio e abriu fogo indiscriminadamente.

Espectador (Colômbia)

Homem mata onze e deixa instruções para enterro

Um homem abriu fogo em uma escola brasileira, no Rio de Janeiro, matou onze crianças e se suicidou. Ele deixou uma carta na qual dá instruções para o seu enterro. O assassino não tinha antecedentes criminais.
--------------------------------------------------------------------------------

Um comentário:

  1. "Um lugar feito para construir sonhos, foi transformado em um inferno", disse o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB). "Ele é um psicopata, um animal", desabafou o governador do Rio, Sérgio Cabral
    Dilma quer que medidas sejam tomadas e creio que Cabral, junto a segurança de nosso estado tomará estas medidas e que estas sejam aplicadas não só aqui no RJ mas em todo território brasileiro. Não queremos mais tragédias, queremos PAZ e EVOLUÇÃO positiva!!!!

    ResponderExcluir