segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"Cidades Ministro libera verba para reduto"



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Mário Negromonte é filiado ao PP que administra 43 cidades beneficiadas com verbas do ministério 
FOTO: WILSON DIAS/ABR
Prefeituras do PP, partido de Negromonte, têm maior parte dos convênios para obras para reduzir acidentes

Brasília Dinheiro reservado pelo Ministério das Cidades para projetos que reduzam acidentes de trânsito foi usado para financiar obras em cidades sem histórico de problemas sérios nessa área, mas que são redutos eleitorais do ministro Mário Negromonte. As informações são da Folha de S. Paulo.

O ministério já liberou neste ano R$ 16 milhões para essa finalidade, beneficiando 102 prefeituras. O partido de Negromonte, o PP, administra 43 desses municípios. O PMDB, que aparece em segundo na lista de beneficiários, conseguiu recursos para apenas 23 prefeituras.

O orçamento do ministério prevê que os recursos reservados para "fomento a projetos destinados à redução de acidentes no trânsito" sejam repassados para que as prefeituras promovam campanhas educativas e melhorias das "condições viárias". Mas o ministério vem usando o dinheiro para firmar convênios com prefeituras e financiar obras exclusivamente, incluindo pavimentação de ruas, construção e reforma de ciclovias e calçadões.

Das 102 prefeituras beneficiadas pelo ministério, apenas seis aparecem entre os 150 municípios apontados num estudo recente da Confederação Nacional dos Municípios como os que apresentam índices de mortes no trânsito mais preocupantes.

Um exemplo é Glória, cidade baiana que fica a 404 km de Salvador e é administrada pela mulher do ministro, Ena Vilma Negromonte. Apenas sete pessoas morreram em acidentes de trânsito em Glória entre 2001 e 2009, segundo o Ministério da Saúde.

A prefeitura, que foi a segunda maior beneficiada pelo programa, recebeu R$ 975 mil para construir uma ciclovia e uma pista de cooper. Entre os beneficiários, a cidade de Glória ficou atrás apenas de Manaus, única capital na lista.

Outros sete municípios baianos receberam dinheiro do ministério. Em três deles, Negromonte foi o deputado federal mais votado nas eleições de 2010. Em outras duas, o campeão de votos foi seu filho, o deputado estadual Mário Negromonte Júnior.

Disputas

Disputas de poder regionais provocaram neste ano uma crise no PP. No início de agosto, elas levaram à destituição do líder do partido na Câmara, o deputado Nelson Meurer (PR), aliado de Negromonte, que não se entende com a bancada.

Negromonte foi acusado por desafetos de oferecer mesadas de R$ 30 mil a deputados que se alinhassem com seu grupo na disputa partidária. Ele nega a acusação.

Cidades que são redutos eleitorais de deputados do PP aliados ao ministro, como Meurer, João Pizzolatti (SC), José Otávio Germano (RS) e Luiz Fernando Faria (MG), foram especialmente beneficiadas pelos recursos destinados à redução de acidentes.

Levantamento feito com base na lista de prefeituras que receberam dinheiro do ministério e nos resultados das últimas eleições mostra que, em 45 municípios beneficiados, integrantes da turma de Negromonte figuraram entre os três mais votados no ano passado.

Não aconteceu a mesma coisa com os desafetos do ministro, como o deputado Espiridião Amin, campeão de votos do PP em Santa Catarina. Dos 16 municípios catarinenses beneficiados pelo ministério, somente dois são da base eleitoral de Amin.

OUTRO LADOMinistério diz que partido não foi privilegiado

O Ministério das Cidades diz que as 102 prefeituras que receberam recursos para projetos de redução de acidentes de trânsito integram um grupo de 1.088 prefeituras cujos projetos foram selecionados em 2009 e 2010, na gestão do ex-ministro Márcio Fortes.

O ministério, contudo, não comentou o fato de que os municípios que tiveram suas verbas liberadas este ano são, em sua maioria, administrados pelo PP, além de serem redutos do ministro Negromonte e aliados.

Sobre o fato de nenhuma parcela das verbas contemplar ações educativas como prevê o Orçamento, o ministério afirma que as obras viárias também estão previstas. Não comentou a razão das cidades beneficiadas não possuirem histórico significativo de acidentes.

Os deputados Nelson Meurer, João Pizzolatti e Otávio Germano confirmaram que os recursos para suas bases foram viabilizados graças a sua influência no ministério, mas disseram ignorar que a verba era destinada para diminuir acidentes.

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