quarta-feira, 4 de maio de 2011

"Internacional DN - VERSÃO MODIFICADA - Bin Laden estaria desarmado"

Ayman al Zawahri se uniu a Osama Bin Laden nos anos 80; ele é apontado como estrategista da Al Qaeda
FOTO: REUTERS

A ONU pediu detalhes sobre o assassinato. Segundo a Casa Branca, agora os EUA buscarão destruir a Al Qaeda

Washington/Fortaleza Ao contrário do que foi anunciado antes, a Casa Branca admitiu, ontem, que Osama bin Laden não estava armado quando um comando de fuzileiros navais americanos atacou a casa onde o líder da Al Qaeda morava com algumas de suas mulheres e parentes no território paquistanês

Devido à falta de esclarecimentos e imagens sobre a ação anti-terrorista americana, a alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, pediu, ontem, que os EUA divulguem detalhes da morte do terrorista à entidade e disse que todas as operações de antiterrorismo devem respeitar o direito internacional.

Apesar de o secretário da Justiça dos EUA, Eric Holder, ter defendido como legal a operação dos EUA no Paquistão, que resultou na morte de Osama, analistas consideram que ação norte-americana foi pouco eficiente do ponto de vista do combate ao terrorismo e mancha a imagem do país como porta-voz dos direitos humanos.

Para o coordenador do curso de Relações Internacionais da Ibmec, José Luiz Niemeyer, em vez de ter assassinado o líder terrorista, o governo americano deveria ter prendido Osama e o encaminhado a julgamento do Tribunal Penal Internacional.

"A morte, o discurso de Obama e a própria comemoração dos norte-americanos passaram a imagem negativa de um país que quer combater a violência, enaltecendo uma ação ligada a um assassinato. Para o mundo, representa uma ação que teve início, meio e fim", avaliou.

O professor de Ciências Políticas da Universidade de Fortaleza (Unifor), Francisco Moreira, acredita que a figura de Osama teve um caráter mais propagandístico do governo Obama e não vai diminuir ações terroristas pelo mundo. "Ele era um mito do 11 de Setembro. Eles mataram um mito que pode deixar vários desdobramentos com manifestações violentas de grupos mais fundamentalistas", disse.

Com a morte de Bin Laden, os Estados Unidos buscarão agora destruir a organização central da Al Qaeda, disse ontem um conselheiro de alto escalão da Casa Branca.

Desde os ataques de 2001 em Nova York e em Washington, a Al Qaeda conquistou grupos afiliados no Oriente Médio e no norte da África e inspirou ataques na Europa. Mas o chefe de contraterrorismo da Casa Branca, John Brennan, disse que a morte de Osama foi a mais recente de uma série de operações norte-americanas que desferiram "vários golpes" à rede central da Al Qaeda no Paquistão e no Afeganistão no último ano.

"Vamos tentar tirar vantagem dessa oportunidade que temos agora, com a morte do líder da Al Qaeda, Bin Laden, para garantir que possamos destruir aquela organização", disse Brennan em entrevista à rede americana de televisão NBC. "Estamos determinados a fazer isso, e acreditamos que podemos", acrescentou. Para Brennan, a organização teve a capacidade "degradada" e será mais difícil para ela operar dentro e fora do Paquistão, acrescentou.

Mas para o professor Luís Niemeyer, a derrota da Al Qaeda e o fim de associações terroristas não será tão fácil de acontecer. Ele avalia que a morte de Osama Bin Laden pode gerar um recrudescimento de grupos mais fundamentalistas. "Outras facções podem aparecer dando respostas mais de curto prazo", disse.

Provas da morte

A Casa Branca também afirmou que liberar para a imprensa fotografias do cadáver de Bin Laden poderia ser algo "inflamatório" para extremistas, que se sentiriam incitados à vingança.

Mesmo assim, algumas fotos que supostamente mostram o saudita morto começaram a circular, ontem, na internet. Não se pode confirmar a procedência das imagens.

Carney ainda disse que a morte de Bin Laden provavelmente não deve afetar o cronograma dos EUA para retirar as tropas americanas do Afeganistão. Obama estabeleceu que o início da retirada dos militares deve começar em julho.

Operação

Bin Laden foi morto com um tiro de um dos cerca de 20 militares da Marinha dos EUA que invadiram, em helicópteros, sua mansão de alta segurança em Abbottabad, cidade a apenas cerca de 50 km da capital paquistanesa e que ficava próxima a uma academia militar que treinava membros para as Forças Armadas do Paquistão.

A localização da casa do terrorista levou a duras críticas ao Paquistão e à especulação de que o país teria ajudado o líder terrorista a se refugiar. Há suspeitas de que ele já estava no local há cerca de cinco anos.

Para os especialistas em relações internacionais, a aliança entre Estados Unidos e o Paquistão é vulnerável e foi enfraquecida nos últimos anos depois que os americanos apoiaram o projeto nuclear da Índia, principal rival do governo paquistanês."A relação dos americanos com o Paquistão é uma colcha de retalhos e revela uma aliança que só é benéfica em alguns casos", disse Niemeyer.

NÚMERO 2
Médico egípcio pode ficar com comando da Al Qaeda

Cairo, Egito. Com a morte de Osama bin Laden, a atenção se volta para o número 2 da rede terrorista Al Qaeda: Ayman Al Zawahri, médico egípcio e braço direito de Bin Laden. Agora, ele deve passar a comandar o grupo insurgente.

Acredita-se que Zawahri esteja escondido no território montanhoso na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Ele vem divulgando dezenas de mensagens desde os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos, em 2001. Na última monitorada, no mês passado, ele pedia que os muçulmanos lutassem contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e as forças americanas na Líbia.

Zawahri, nascido em 1951, começou sua atividade terrorista ainda na juventude, com uma célula secreta na escola, em oposição ao então presidente egípcio Anwar Sadat, que via como um infiel que não seguia as leis de Deus.

Quando a militância da Jihad Islâmica egípcia foi fundada, em 1973, ele juntou-se ao grupo, que assassinou Sadat. Zawahri foi uma das 301 pessoas presas pelo crime, mas foi inocentado. No entanto, ele foi condenado por posse ilegal de arma e ficou três anos na prisão.

Em meados da década de 1980, ele se uniu a Bin Laden no noroeste da cidade paquistanesa de Peshawar, para apoiar os guerrilheiros na luta contra os soviéticos no Afeganistão.

Durante anos, o carisma de Bin Laden garantiu à Al Qaeda o ingresso de muitos militantes. Contudo, foi a capacidade estratégica de Zawahri que manteve a organização terrorista unida - apesar de descentralizada - depois da invasão do Afeganistão, em 2001. A invasão do país pelas tropas dos Estados Unidos levou à morte da mulher e de pelo menos dois dos seis filhos do egípcio em Kandahar.

Há quem diga que os ataques do dia 11 de Setembro de 2001, pelos quais Bin Laden sempre foi tido como principal responsável, só foram possíveis pela ação do seu braço direito.

UNIÃO
Especialista ressalta papel de cooperação internacional

Rio de Janeiro. Após a morte de Osama bin Laden, no dia 1º de maio, o desafio agora é desenvolver a capacidade dos governos na cooperação internacional na área de segurança. A afirmação é do professor de Política e Relações Internacionais da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, John Ikenberry, durante Conferência Internacional sobre Geopolítica e Segurança na América Latina, promovida ontem no Rio de Janeiro.

Ikenberry disse que os povos islâmicos estão reivindicando direitos e manifestou a esperança de que as nações do Oriente Médio e do Norte da África caminhem para uma postura não antagônica em relação aos países do Ocidente.

De acordo com ele, ainda existem muitos desafios de segurança para os Estados Unidos e para a comunidade global que geram instabilidade. "Quando olhamos para o mundo agora, não é como na Guerra Fria, quando havia uma única ameaça. Agora existem muitas, que vêm ao mesmo tempo e provocam instabilidade em muitas partes do mundo", avaliou.

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