segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"ministério da defesa - Amorim toma posse em clima de insatisfação"



Publicado em 8 de agosto de 2011 
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Manifestantes aproveitaram a troca da bandeira nacional ontem, na Praça dos Três Poderes, para expor suas reivindicações contra o sucateamento das Forças Armadas 
AGÊNCIA BRASIL
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O estilo de governar de Dilma Rousseff incomoda ministros e parlamentares 
REUTERS
Orçamento reduzido e salários defasados são as principais insatisfações dos militares em relação ao governo de Dilma

Brasília. O embaixador Celso Amorim toma posse hoje à frente do Ministério da Defesa em meio a uma insatisfação das Forças Armadas com o orçamento destinado à área.Ontem, em Brasília, um grupo de esposas de militares e integrantes da reserva protestou durante solenidade da troca da bandeira nacional na praça dos Três Poderes. Eles pediram melhores salários e criticaram o que chamam de sucateamento das Forças.Os problemas orçamentários da Defesa, que sofreu pesado corte no início do ano por ordem da presidente Dilma Rousseff, foram apontados como motivo de insatisfação de Nelson Jobim, que acabou deixando o cargo depois de uma sequência de declarações polêmicas.As reivindicações salariais são mais fortes na base da carreira. Taifeiros, soldados, cabos e sargentos, segundo os familiares, recebem soldo incompatível com o trabalho que exercem quando se leva em comparação os rendimentos de profissionais da polícia militar e bombeiros do Distrito Federal. "O salário nosso é terrível", resume Genilvaldo da Silva, presidente da Associação dos Militares da Ativa, da Reserva e Pensionistas (Amarp). "Existe uma defasagem salarial de 135%", diz a presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa), Ivone Luzardo.A presidente da entidade destaca que mesmo um reajuste de 28,68% para a carreira, fruto de ação judicial já decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), está com seu trâmite paralisado. Outra reclamação é de que as Forças Armadas têm limitado a promoção de quem começa a carreira na base. Outro protesto é em relação à falta de investimento em equipamentos para as Forças.Ivone Luzardo lembrou que na semana passada um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) caiu em Santa Catarina matando oito pessoas e atribuiu o incidente ao "sucateamento". "Todo ano tem corte no Orçamento e os militares hoje são obrigados a lidar com equipamentos obsoletos colocando suas vidas em risco", afirma a presidente da Unemfa.A manifestação foi feita na presença do comandante-geral do Exército, general Enzo Peri. No sábado, ele e os comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e da Marinha, almirante Júlio de Moura Neto, já alertaram Amorim das insatisfações sobre os cortes orçamentários e pediram ao ministro um trabalho para evitar cortes no Orçamento do próximo ano.Desvalorização135 % é a defasagem do salário dos militares, segundo afirma Ivone Luzardo, presidente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa)ANÁLISEEscolha impõe poder civil sobre os militaresA presidente Dilma Rousseff acertou na escolha do ex-chanceler Celso Amorim para ocupar a vaga deixada por Nelson Jobim no Ministério da Defesa, segundo o analista político Creomar de Souza. Na opinião dele, Amorim deverá consolidar o controle civil sobre as atividades militares e mostrar traquejo para lidar com as dificuldades do cargo."Era a pessoa certa, no lugar certo e na hora certa", avalia Souza, que também é professor de Relações Internacionais da Faculdade Ibmec em Brasília. Ele explica que o Brasil não tem tradição de subordinação militar ao poder civil e que o Ministério da Defesa foi criado com dificuldades durante o governo de Fernando Henrique Cardoso justamente para marcar a nova fase da democracia brasileira.No entanto, para o professor, o objetivo só foi alcançado com Jobim. O ex-ministro tinha perfil compatível com o modus operandi militar, com personalidade forte e pouca flexibilidade.Desafio da continuidade"Com Jobim nós tivemos pela primeira vez alguém que era ministro e que conseguiu impor uma agenda para os militares. Só que chegou um momento em que a manutenção do ministro era insustentável". Para Souza, colocar o vice-presidente da República para acumular as funções - como fez Lula com José Alencar - seria um "retrocesso". Souza acredita que ainda é cedo para saber se Amorim vai conseguir dar continuidade à agenda iniciada por Jobim.MINISTROS ANULADOSMudanças causam desconforto na baseParlamentares reclamam que o estilo de governar da presidente os deixa "amarrados" e anula os ministrosAo entrar no oitavo mês de Planalto e já contabilizar três demissões ministeriais de peso, os parlamentares da base aliada e ministros começam a emitir sinais de desconforto com o jeito Dilma Rousseff de governar. Eles temem o confronto com a presidente, não ousam fazer a crítica abertamente, mas têm a mesma queixa: "Dilma amarra os parlamentares e anula os ministros".Por trás das decisões rápidas e ríspidas, principalmente depois da demissão de Antonio Palocci da Casa Civil, em junho, os aliados avaliam que "o governo mostra desorientação e pode correr riscos desnecessários". Os parlamentares dizem que a presidente está mais interessada em "mandar do que governar" e falam em um tom que abre possibilidades para "um troco". Traduzindo: uma votação que, propositalmente, derrote o Planalto.Mas são os ministros, que não têm as armas dos parlamentares, os mais incomodados. Depois de demitir também Alfredo Nascimento (Transportes) e Nelson Jobim (Defesa), Dilma reforçou o estilo centralizador e a paralisia aflige os ministros.Em conversas reservadas, os ministros ouvidos pela reportagem listam uma série de projetos prontos para serem apresentados à sociedade, mas que continuam na fila de espera, aguardando o aval da presidente. Isso pode ser bom para a imagem da petista, mas, dizem os ministros, fragiliza o governo."Deslulização"Assim como o ministério de Dilma - do qual já saíram Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim, todos oriundos da administração anterior -, também o segundo escalão do governo passa por um processo de "deslulização".Nada menos que 70% do segundo escalão era ocupado por funcionários herdados da gestão Lula. Agora, o panorama é outro. Passados pouco mais de sete meses, a proporção caiu de 70% para 40%.

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