domingo, 25 de julho de 2010

"Barroquinha era assim!"

Poderíamos dividir nossa cidade em quatro pequenas regiões. A região do quadro da rua, onde morávamos, a do paço novo, a do campo, numa alusão ao descampado que existia em frente ao colégio Carmelita Véras, subindo até mais ou menos em frente ao Grupo Escolar Getúlio Vargas, atual escola Jaime Laurindo e, finalmente, a da Caucaia.

O bairro Caucaia, de hoje, o nome surgiu em referência à Caucaia-CE, que assim como a cidade da região metropolitana de Fortaleza, estava crescendo rapidamente com a abertura de bom número de bares, se assemelhando ainda mais, com o alto índice de violência causada pela embriaguês dos freqüentadores.

Segundo contam, o senhor Mano, em tom de brincadeira, fez a comparação e assim ficou. Antes, também em tom de brincadeira, típica do barroquinhense, chegou a ser chamado de Volta da Jurema.

Na realidade a Caucaia, passou predominantemente a ser, ao longo dos anos, habitada pelas famílias que residiam antes, nos lugarejos situados ao norte de nossa cidade, Barroquinha dos Fiéis, Ilha, Marisco, Remédios, etc.

Trabalhadores rurais e agricultores, que se estabeleciam no nosso distrito, mediante o, embora pouco, maior desenvolvimento do lugar, comparando com seus lugares de origem.

Em suas ruas, como na maioria das outras da localidade, corria um ‘areial’ frouxo, que a gente pisava, mas a sensação que tínhamos era que não saíamos do ‘canto’.

Na rua do campo, sobressaia-se como destaque visual a Santa Cruz e a rodagem de piçarra que ligava as cidades de Camocim e Chaval. Além disso, por todo o campo, existiam as veredas que encaminhavam as pessoas às ruelas existentes, onde muitos habitavam.

No Paço Novo, rua que se compreendia ser da esquina da mercearia e farmácia do senhor Pedro Véras, em direção à saída para quem vai para a vila de Lagoa do Mato, existia uma areia solta e grossa que apenas facilitava o caminhar de pessoas montados em animais. Já que, de bicicleta era inviável, tamanha frouxidão do terreno.

A Rua do Ouvidor, também, como ficou conhecida, era a rua mais movimentada do distrito.

O mercado da venda de carnes e peixes, ou simplesmente mercado, como assim o chamamos até hoje, no espaço que existia entre a loja do senhor Franciné(esquina) e a bodega do senhor Chico Eduardo, concentrava grande número de lojas e mercearias, onde a população local, bem como, das circunvizinhanças, se abasteciam.

No quadro da rua ou praça da matriz, residiam as famílias mais tradicionais do lugar: Araújo, Benício, Bento, Fontenele, Pereira, Rocha, Véras, dentre outras, claro, os Gouveias.

Era caracterizada principalmente, pela existência da Igreja, em forma de cruz, onde eram celebrados os eventos religiosos, por assim dizer: o Triduo Mariano, no mês de maio, a festa de São Francisco no mês de outubro, as Missas mensais, os batizados e o tradicional festejo de Nossa Senhora dos Navegantes, no mês de agosto, realizados desde 1914.

Além disso, aos domingos existiam os Cultos Dominicais, que na ausência de padre, a pregação do Evangelho era feita pelo Dirigente do Dia Do Senhor, meu pai, Vicente Adolfo.

Em nossa Barroquinha, da rua de baixo, assim também chamada, podíamos dividir o ano em apenas duas estações. Época de chuva, ou inverno como conhecemos. E, depois período seco, ou verão.

Durante o inverno, brotava do chão uma espécie de grama que alastrava em cada centímetro quadrado do nosso quadro. Na região, em frente da Igreja e caixa d’água, aparecia um ‘brejado’ escorregadio e deste, floriam várias vegetações, entre tantas, principalmente, as ramas de mata-parte.

Todo o quadro ficava verdinho, que parecia proliferação divina do verde. E, era mesmo!

Os gramados, as ramas de mata-parte, só davam lugar, vez por outra, para as veredas que cortavam o quadro em diagonal, criadas pelos andantes, na tentativa de cortar caminho.

O quadro da Matriz, mesmo nas chuvas, possuía circunferências sem nenhum tipo rama ou grama, apenas areia. Eram nestas extremidades que circulavam os carros, as bicicletas e animais. Principalmente, na piçarra da rodagem que passava numa das laterais do mesmo.

Nos meses do verão, tudo que era verde transformava-se em um amarelo acinzentado, se é que existe esta cor, mas o que quero dizer, é que as ruas ficavam sem vida. Tudo murcho ou murchando, seco ou secando. A paisagem ficava muito feia.

Os gramados e as diversas vegetações rasteiras, davam lugar ao chão duro de barro batido com grama seca e rala.

O vento ficava tão quente, que formava enormes redemoinhos. Uma espécie de funil de vento que levantava do chão, areia, lixo e tudo o que tivesse pela frente. O fenômeno tomava força no campinho atrás da Igreja e terminava, quase sempre, na esquina da rodagem do rumo de Chaval.

A energia elétrica que dispomos hoje em todas as casas de nossa cidade, no meu tempo, era privilégio de poucos. Isso, quando a prefeitura de Camocim, mandava o óleo diesel para a casa de força usar no gerador.

Apenas as ruas do quadro e a do Ouvidor, recebiam iluminação artificial, à noite, em alguns postes, sem falar que permaneciam acesos somente até as vinte e duas horas. Dez da noite.

Nossa iluminação residencial, eram na base das lamparinas e dos lampiões de gás.

Podíamos contemplar no céu, as estrelas do cruzeiro do sul e as três marias, além de todas as outras. Antes do amanhecer, parecia que a estrela Dalva pertencia somente ao nosso povo, de tão radiante que ficava.

Nos dias de hoje, quase não podemos observar nada destas minhas recordações. Afinal, o distrito foi emancipado, houveram as implementações necessárias de infraestrutura, o mundo evoluiu e, principalmente as pessoas, evoluíram.

Mas, ficou muita saudade e embora 'meu lugar' precise continuar evoluindo, ainda me considero apaixonado por aquela menina, que conheci quando nasci. Posso dizer, que foi amor a primeira vista, pela minha eterna Barroquinha!

Postado por Gouveia Neto.


2 comentários:

  1. Parabéns, Gouveia Neto, por esta linda matéria que vc escreveu sobre nossa Barroquinha, ao ler a mesma me recordei de minha adolescência, pois, lembro que jogamos muitas peladinha no campinho de frente para a Igreja e ao lado do Posto de Saúde, hoje eu moro no Rio de Janeiro desde de 1988, mas nunca esqueci minha cidade natal, são tempos que não volta mais. Sem mais,
    Deixo meu abraço.
    Francisco Konisberg Silva Rocha.

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  2. parabéns, minha Barroquinha, minha cidade natal!

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