O ministro de Energia, Jibran Bassil (ao centro), anunciou a renúncia de 11 integrantes do governo ao lado de seus aliados; presidente Obama se comprometeu a trabalhar pela estabilidade
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Ministros do grupo xiita e seus aliados renunciaram ao gabinete por não concordarem com tribunal da ONU
Beirute. Onze ministros do grupo xiita Hezbollah e seus aliados xiitas, comunistas e cristãos renunciaram ao gabinete libanês ontem. A medida derrubou o governo de unidade do Líbano, em meio a uma crise ligada a um tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU) que investiga o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafiq Hariri.
O grupo militante xiita Hezbollah nega ter participado do assassinado. O líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, alega que o tribunal é um "projeto de Israel" e pediu que o atual primeiro-ministro, Saad Hariri, filho de Rafiq, desistisse dele. O premiê sunita resistiu à exigência do grupo.
"Abrindo o caminho para a formação de um novo governo, os ministros apresentam sua renúncia, esperando que o presidente tome os passos necessários rapidamente para a formação do novo governo", declarou o ministro de Energia Jibran Bassil, falando pelo Hezbollah e por seus aliados.
O Hezbollah deu um prazo até ontem para Hariri fazer uma reunião de gabinete sobre o tribunal da ONU.
O governo libanês é fruto de prolongadas negociações e é formado por 30 ministros, 11 deles do Hezbollah e seus aliados. Para que o governo caísse, o Hezbollah precisou do apoio de mais de um terço dos ministros, o que o ministro da Saúde, Mohamad Jawad Khalifeh, do partido xiita Amal, afirmava já ter e foi confirmado mais tarde.
O impasse por causa do tribunal prejudicou o governo de "união" de Hariri, que durou 14 meses. Os ministros se reuniram, rapidamente, apenas uma vez nos últimos dois meses e o governo não conseguiu a aprovação do orçamento de 2010 no Parlamento.
A tensão provocada pelo tribunal da ONU exacerbou as diferenças existentes entre Hariri, apoiado pelas potências do Ocidente e pela Arábia Saudita, e o Hezbollah, apoiado pelo Irã e pela Síria.
Estabilidade
A renúncia foi anunciada enquanto Hariri se reunia com o presidente do s Estados Unidos, Barack Obama, em Washington. Eles se comprometeram a trabalhar pela estabilidade do Líbano. "O presidente e o primeiro-ministro expressaram sua determinação em conquistar a estabilidade e a justiça neste período de incerteza governamental", indicou a presidência norte-americana em comunicado.
A Casa Branca atribuiu a renúncia do Hezbollah ao "medo" sentido pelo movimento xiita e por seus aliados.
Hariri partiu para Paris, onde terá reuniões com o presidente da França, Nicolas Sarkozy. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que está em Doha, no Catar, afirmou que os Estados Unidos estão em consultas com países vizinhos do Líbano para "preservar a soberania, estabilidade e independência do Líbano e as necessidades do povo libanês". "Nós vimos o que aconteceu como um esforço para subverter a justiça e minar a independência e soberania do Líbano", afirmou Hillary.
"Com o afastamento, querem paralisar o Estado, e destruir o tribunal internacional. Acham que intensificando as pressões vão conseguir dobrar Saad Hariri, mas suas tentativas são destinadas ao fracasso", afirmou o ministro do Meio Ambiente, Mohamed Rahhal, ligado a Hariri.
A situação atual parece a de 2006, quando seis ministros do Hezbollah deixaram o governo de Fuad Siniora, próximo a Saad Hariri, num contexto de crise política e de divergências sobre a instalação de um tribunal internacional. O país ficou à beira de uma guerra civil.
Fique por dentro
"Partido de Deus"
O partido islâmico xiita Hezbollah, "Partido de Deus" em árabe, principal força militar do Líbano e uma formação política inevitável, foi criado em 1982, e afirma que seu principal objetivo é combater Israel. A influência política do grupo cresceu após o assassinato do ex-premiê Rafic Hariri em 2005, refletindo-se na aliança de governo com a coalizão pró-ocidental liderada por Saad Hariri, filho do líder morto. A tensão se instalou entre os aliados desde julho, quando o Hezbollah denunciou a possibilidade de a ONU apontá-lo como responsável pelo assassinato do ex-premiê, crime que eles negam. O grupo é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos.
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