Foram apreendidas 33 toneladas de maconha, 235 quilos de cocaína, 135 armas de longo alcance, entre fuzis e metralhadoras, além de bombas, granadas e munições
FOTO: BRUNO DOMINGOS/REUTERS
Comandante afirma que o crime organizado sofreu "uma paulada"; policiais encontram nova rota subterrânea de fuga
Rio de Janeiro. O comandante-geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Mario Sergio Duarte, estimou em pelo menos R$ 100 milhões o prejuízo financeiro causado ao tráfico da cidade com a operação de ocupação do Complexo do Alemão (zona Norte). Duarte definiu a cifra como "uma paulada" nas finanças do tráfico.
"As estimativas da Polícia Militar nos indicam que o impacto de perda de drogas, armas, das próprias casas que eles abandonaram, é de mais de R$ 100 milhões, só ali no Alemão. Como nós ainda temos muita coisa para fazer pela frente, nós ainda teremos um impacto financeiro muito maior", afirmou o comandante, que não quis estimar o quanto esse impacto significa em termos proporcionais.
Reportagem publicada no domingo pelo jornal "Folha de S. Paulo" divulgou estudo do economista e professor do Ibmec-RJ Sérgio Ferreira Guimarães, pelo qual o tráfico movimenta entre R$ 317 milhões e R$ 633 milhões por ano no Rio. Consideradas essas cifras, a operação no Alemão teria afetado ao menos 15% do faturamento anual do tráfico.
"Eles estão com as duas pernas quebradas. Não têm como se reestruturar. Qual empresa consegue se estruturar depois de perder R$ 100 milhões? Não tem condição de se levantar mais. Tem alguns focos e a gente vai combater não só dessa facção, mas de todas as outras que estão trazendo insegurança para as comunidades. A gente vai bater e vai bater pesado", analisou o chefe operacional do Estado Maior da PM, coronel Álvaro Rodrigues Garcia.
O secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, apresentou, ontem, o resultado do trabalho das polícias civil e militar no complexo: 33 toneladas de maconha, 235 quilos de cocaína, 135 armas de longo alcance, entre fuzis e metralhadoras, além de bombas, granadas e munições que, segundo ele, ainda não tinham sido totalmente contabilizadas.
As drogas apreendidas serão incineradas na manhã de hoje no forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, região sul do Estado do Rio. "Pelo que acompanhamos com o Setor de Inteligência, o Comando Vermelho (CV), tanto na capital como no interior, está muito vulnerável", afirmou o secretário.
Fuga:
A Polícia Civil localizou, ontem, uma nova rota subterrânea usada pelos traficantes para escapar do cerco às favelas do Complexo do Alemão. Os criminosos entraram na rede de galerias por uma caixa coletora na rampa do Largo do Coqueiro, atrás da Centro Educacional Jornalista Tim Lopes, e saíram no meio da Rua Arapá, que dá acesso ao Morro do Adeus.
Nesse ponto, a galeria tem dois metros de largura por dois de altura. De acordo com o agente Marcelo Darze, moradores contaram que pelo menos 50 pessoas usaram a galeria para escapar do cerco, na noite do último sábado. Muitos escaparam portando armas.
Ontem, a Polícia prendeu Daniel Luiz Soares, o "Daniel Papai", 29 anos, suspeito de ser o chefe do tráfico da Favela de Manguinhos, no subúrbio do Rio. Ele havia fugido na última quarta-feira. Cerca de 30 bandidos foram presos na ação policial até agora.
Com o objetivo de coletar mais informações sobre os criminosos, a Polícia Militar (PM) passará a circular com carros de som no Complexo do Alemão, pedindo que os moradores denunciem rotas de fuga e esconderijos de armas e drogas. Em mensagens gravadas e panfletos, a população será convocada a "fazer parte das tropas de elite da paz" - o que representa uma estratégia de conquista psicológica dos civis, semelhante à que foi adotada pelas tropas de paz que atuaram no Haiti.
A descoberta das galerias fortalece a tese de que os traficantes usaram a rede de galerias de águas pluviais construídas através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para furar o cerco das forças de segurança. Para ter acesso ao túnel, os bandidos cortaram o alambrado do Espaço de Desenvolvimento Infantil Dona Lindu, onde funciona uma creche.
Marcas da passagem dos fugitivos ainda podem ser vistas no local. Os traficantes fizeram muitos disparos no horário em que se deu a fuga em massa, por volta das 22h de sábado, para desviar a atenção dos militares que cercavam a área. A galeria sai do conjunto de obras do PAC, passa sob a Estrada do Itararé e segue pela Rua do Arapá, onde a laje superior do canal tinha sido arrebentada.
Policiais entraram na passagem subterrânea numa tentativa de encontrar armas, mas a busca foi suspensa porque havia muita água. A Polícia foi autorizada a usar bombas de efeito moral para obrigar a saída de pessoas escondidas.
Cifras:
633 milhões de reais por ano seria quanto o crime organizado movimenta no Rio de Janeiro, segundo o professor do Ibmec-RJ Sérgio Ferreira Guimarães
15% do faturamento do tráfico teriam sido afetados pela operação no Complexo do Alemão, se forem considerados os números do professor Guimarães
SEGURANÇA:
Governador quer Exército até outubro de 2011
Rio de Janeiro. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), assinou, ontem, o pedido formal ao Ministério da Defesa para a permanência das Forças Armadas no Estado até outubro de 2011.
"Eu assinei um documento solicitando tropas de paz do Exército para que nossa polícia possa continuar fazendo o trabalho de inteligência", afirmou Cabral em entrevista no lançamento de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Morro dos Macacos. Segundo ele, o Ministério da Defesa deve emitir a norma até hoje. "Nós combinamos não especificar o número, deixar isso a cargo deles porque há toda uma lógica militar que precisamos respeitar", explicou o governador.
Ontem pela manhã, em entrevista à rádio CBN, Cabral afirmou que, no período, serão formados novos policiais militares, que ocuparão definitivamente - com UPP - os complexos do Alemão e do Cruzeiro.
A principal crítica feita a ocupações anteriores do complexo era o fato de serem temporárias - a Polícia subia o morro, prendia alguns traficantes e saía alguns dias depois. Com isso, os criminosos voltavam. Para implantar a UPP do Alemão será preciso um efetivo de 2 mil policiais, o equivalente a 5% da corporação.
Apoio:
O presidente Lula voltou a garantir, ontem, todo o apoio necessário ao governo do Rio na estratégia de enfrentamento do crime organizado. Segundo ele, as Forças Armadas ficarão na cidade o "tempo que for necessário para garantir a paz".
Lula também não descartou mandar mais soldados para o Rio, caso seja solicitado. "Se o comandante da operação entender que é preciso mais gente, nós vamos atendê-lo", afirmou o presidente.
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